Rússia fecha escolas e retira crianças de área atacada pela Ucrânia

Putin promete agir na fronteira, o que abre nova frente na guerra; Kiev ataca base de armas nucleares

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São Paulo

O governo de Belgorodo, área que faz fronteira com a Ucrânia no sul do país, determinou a retirada de 9.000 crianças e o fechamento de escolas devido ao recrudescimento dos ataques de Kiev contra cidades da região.

A medida vem na sequência dos bombardeios com drone e foguetes de artilharia vindo da Ucrânia, a 40 km de distância da capital regional, e de ações como incursões em vilas ao longo da fronteira entre os países em guerra desde a invasão russa de 2022.

Sacos de areia tentam proteger janela de jardim da infância atingido por míssil ucraniano em Belgorodo
Sacos de areia tentam proteger janela de jardim da infância atingido por míssil ucraniano em Belgorodo - AFP - 17.mar.2024

Ela sugere um primeiro passo de um novo objetivo de guerra enunciado por Vladimir Putin, tanto no discurso de sua vitória após ser reeleito para um quinto mandato como presidente no domingo (17), como em uma fala televisionada nesta quarta-feira (20).

"Tem muito o que nós precisamos fazer, e faremos tudo o que depende de nós. Claro, a missão primária é garantir segurança [das regiões]. Há maneiras diferentes de fazer isso. Elas não são fáceis, mas nós as faremos", disse o presidente em um evento no Kremlin.

Nesta quarta, mais uma pessoa morreu na região, somando-se às 16 que haviam perecido em ataques até então. O governo interceptou 13 foguetes e disse ter acabado de matar ou expulsar os comandos de rebeldes russos pró-Ucrânia que haviam invadido uma vila na fronteira com apoio do Exército de Kiev.

Segundo o governador Viacheslav Gladkov, escolas primárias e secundárias serão fechadas provisoriamente, aproveitando o feriado da Páscoa ortodoxa, que ocorre no começo de maio. Universidade e institutos técnicos continuarão as aulas remotamente.

Belgorodo é o palco da guerra na Rússia. As ações não têm consequência militar no curso do conflito, mas demonstram vulnerabilidade russa, com imagens de bombardeios e feridos circulando amplamente nas redes sociais do país.

Segundo disse nesta quarta o ministro da Defesa da Rússia, Serguei Choigu, só na semana que precedeu o pleito de sexta a domingo o país abateu 419 drones e 67 foguetes lançados por Kiev. Isso sem contar os que passaram pelas defesas aéreas, número não divulgado. De qualquer modo, foi a mais intensa onda de ataques do tipo na guerra.

Além de Belgorodo, eles visaram atingir refinarias russas, tendo sucesso em seis ocasiões. Não há uma avaliação precisa de danos, mas ao menos em uma ocasião a produção não parece ter sido retomada —petróleo e gás são o centro da economia russa, e o custo de refino de gasolina na porção europeia russa já subiu 50% neste ano.

Kiev ataca base de armas nucleares

Nesta quarta, Kiev lançou drones contra a base aérea de Engels-2, em Saratov, a 800 km de suas fronteiras. A informação, do serviço de inteligência militar ucraniano, não foi confirmada, e não houve divulgação de danos.

Engels-2 é a principal base de bombardeiros da Rússia, incluindo aí o grosso da frota do maior supersônico para ataques nucleares e convencionais do mundo, o Tupolev Tu-160. Este foi o modelo em que Putin voou pouco antes da eleição, numa demonstração simbólica de força contra o Ocidente.

Além disso, saem de lá vários Tupolev Tu-95, o grande quadrimotor turboélice central para os ataques com mísseis contra a Ucrânia.

Após dois ataques com drones de longa distância que mataram ao menos três soldados no fim de 2022, contudo, é certo porém que os russos redistribuíram suas aeronaves. Engels-2 também abriga um depósito subterrâneo de armas nucleares.

O foco no sul da Rússia garante propaganda importante à Ucrânia, que apela diariamente por mais ajuda militar ocidental. Operando com níveis baixos de munição, há temores de que o país possa ter mais perdas territoriais no seu leste e sul, além do risco de uma renovada ofensiva russa no norte.

Isso é sugerido pelas falas de Putin, confirmadas pelo Kremlin, de que será preciso criar uma zona-tampão dentro da Ucrânia para evitar o alcance dos mísseis de Kiev. Para tanto, será preciso voltar a combater com mais intensidade no norte, em especial na região de Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana.

Na cidade, ao menos cinco pessoas morreram em um ataque com mísseis russos contra uma fábrica, segundo o governo local. "Precisamos de defesa aérea", disse o presidente Volodimir Zelenski em pronunciamento.

No fim de 2022, a parte daquele território que havia sido tomada pelos russos na invasão foi recuperada por Kiev, mas o flanco continua exposto. É incerto, contudo, que Putin tenha forças suficientes à sua disposição para agir, o que por sua vez leva a boatos sobre uma nova mobilização de reservistas —medida impopular evitada antes do pleito encerrado domingo.

Em sua fala nesta quarta, Choigu apontou para a expansão já anunciada das forças russas, de 1,1 milhão para 1,5 milhão de combatentes. Disse que serão criados neste ano dois novos exércitos combinados, formações da guerra moderna que empregam múltiplos ramos armados sob o mesmo comando.

Rússia acusa UE de plano para roubar reservas

Em outra frente, a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova, disse que o plano da União Europeia de enviar lucros das reservas monetárias russas congeladas pelo bloco para a Ucrânia equivale a "banditismo e roubo", que garantiriam "anos de litígio" em cortes internacionais.

O chefe da diplomacia do bloso, o espanhol Josep Borrell, afirmou querer enviar 90% do valor que as reservas rendem investidas para a Ucrânia comprar armas. Cerca de 70% das reservas russas congeladas na Europa estão no depósito Euroclear, na Bélgica. Elas equivalem a cerca de R$ 1 trilhão.

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