Descrição de chapéu Estados Unidos China

Trump aprovou campanha de difamação contra a China em seu governo, diz agência

Ex-funcionários relatam operação secreta; CIA não comenta, e Pequim vê interesse dos EUA em manipular opinião pública

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Joel Schectman Christopher Bing
Washington | Reuters

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump autorizou a CIA, agência de inteligência do país, a lançar uma campanha clandestina nas redes sociais da China com o objetivo de voltar a opinião pública contra o regime dois anos após assumir o cargo.

Donald Trump, então presidente dos EUA, e Xi Jinping, líder da China, cumprimentam-se antes de encontro bilateral às margens do G20 em Osaka, no Japão, em 2019 - Kevin Lamarque - 29.jun.19/Reuters

A informação é da agência de notícias Reuters, que a obteve por meio de conversas com três ex-funcionários do governo americano com acesso à operação.

Segundo eles, a CIA designou a uma pequena equipe a tarefa de usar identidades falsas na internet para espalhar narrativas desfavoráveis à gestão de Xi Jinping ao mesmo tempo em que vazavam informações sigilosas nocivas ao regime a veículos de notícias estrangeiros.

Entre essas narrativas estavam acusações de que membros do Partido Comunista no poder guardavam dinheiro obtido de forma ilícita no exterior e críticas à Iniciativa Cinturão e Rota, que financia projetos de infraestrutura em países emergentes, supostamente corrupta e um desperdício de dinheiro.

Segundo os ex-funcionários, esses relatos eram baseados em fatos, apesar de estarem sendo divulgados pela inteligência sob pretextos falsos. Os esforços, dizem eles, tinham como objetivo fomentar paranoia entre dirigentes locais, forçando o regime a gastar recursos em busca dos supostos "furos" nas redes de internet altamente controladas da nação asiática.

A operação, iniciada em 2019, não tinha sido revelada anteriormente. A porta-voz da CIA Chelsea Robinson se recusou a falar sobre a campanha. Já Pequim disse, por meio de um representante de sua chancelaria, que a existência de uma iniciativa como a da CIA mostra que o governo dos EUA usa "plataformas de mídia como armas para espalhar informações falsas e manipular a opinião pública internacional".

Pequim expandiu sua presença global de forma maciça na última década, forjando pactos militares, acordos comerciais e parcerias empresariais com nações em desenvolvimento.

Segundo os ex-funcionários, a operação da CIA buscava justamente minar esses esforços, e citava entre as justificativas para a sua existência a suposta influência maligna de Pequim sobre outras nações, alegações de roubo de propriedade intelectual e planos de expansão militar que ameaçavam a segurança nacional dos EUA, disse um desses

A agência de inteligência atuou não só no território chinês como em outros países em que as duas potências competem por influência, por exemplo o Sudeste Asiático, a África e o Pacífico Sul.

A Reuters não conseguiu determinar o impacto das operações ou se a administração atual, de Joe Biden, manteve o programa da CIA. Kate Waters, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, recusou-se a comentar sobre a existência do programa ou se ele permanece ativo.

Dois pesquisadores especializados em história da espionagem afirmaram à agência, porém, que quando a Casa Branca concede à CIA autoridade para uma ação secreta, ela muitas vezes permanece em vigor independentemente de quem estiver no poder.

Trump adotou durante seu período na Presidência uma resposta mais dura à China do que seus predecessores. O virtual candidato do Partido Republicano à liderança dos EUA no pleito de novembro indicou que pretende adotar uma abordagem ainda mais severa em relação ao país asiático se for reeleito.

Para Paul Heer, que já foi analista sênior da CIA para a Ásia Oriental, a revelação da campanha de difamação contra Pequim pode levar o regime a promover uma retaliação comercial aos EUA.

Depois de a Austrália pedir uma investigação independente sobre a origem da pandemia de Covid-19 em 2020, por exemplo, o país asiático impôs tarifas e barreiras comerciais a exportadores australianos de produtos como vinho, carne bovina, cevada, lagosta e carvão. Especialistas estimam que, no auge, as restrições causaram prejuízos na casa dos US$ 13 bilhões (cerca de R$ 65 bilhões) anuais.

Heer afirma que outro perigo é de que os chineses usem a revelação para reforçar suas acusações de que o Ocidente fere a soberania de outros países ao utilizar métodos obscuros para manipular a opinião pública no exterior.

"A mensagem seria: 'Olhem para os EUA intervindo nos assuntos internos de outros países e rejeitando os princípios da coexistência pacífica’. E há lugares no mundo onde essa mensagem vai ressoar", afirma o especialista, fazendo referência às nações emergentes.

Thomas Rid, professor da Universidade Johns Hopkins que escreveu um livro sobre a história da guerra política, frisa que operações como essa também correm o risco de tornar dissidentes, opositores e jornalistas independentes alvos do regime chinês, uma vez que faz crescer as chances de eles ser falsamente rotulados como espiões a trabalho da CIA.

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