Descrição de chapéu Financial Times China

Nomes leais a Xi disputam poder no Partido Comunista sem ferir hegemonia do líder

Dirigente deve nomear aliados a vários cargos de alto escalão no comando da China, mas segue centralizando poder

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Edward White
Financial Times

Xi Jinping vai usar o "lianghui" de março —as sessões conjuntas do Parlamento chinês, que aprova automaticamente as decisões do líder e do órgão consultivo político— para confirmar nomes a cargos importantes no país que tem a maior população do mundo e é uma superpotência militar em ascensão.

Serão na maioria homens que Xi conhece desde a juventude e de sua confiança, com os quais ele trabalhou durante décadas ao longo da carreira, além de estrelas em ascensão que já deram provas de lealdade ao líder chinês mais poderoso desde Mao Tse-tung.

O líder chinês, Xi Jinping, acena após discurso no Politburo, o órgão máximo do Partido Comunista
O líder chinês, Xi Jinping, acena após discurso no Politburo, o órgão máximo do Partido Comunista - Tingshu Wang - 23.out.22/Reuters

As nomeações vão arrematar a consolidação do poder nas mãos de Xi, no momento em que ele inicia um inusitado terceiro mandato como líder, confirmado no Congresso do Partido Comunista em outubro.

Também vão assinalar a emergência de um novo conjunto de facções entre os acólitos e partidários fiéis de Xi elevados a papéis mais seniores durante o congresso. Wu Guoguang, que foi assessor do ex-premiê chinês Zhao Ziyang, escreveu em texto publicado pelo grupo de pesquisas americano China Leadership Monitor que "uma nova era de política faccional está começando".

"É pouco provável que o status de Xi e sua autoridade como líder máximo sejam contestados por figuras do alto escalão do PC Chinês, mas disputas faccionais já estão começando a ocorrer entre os diversos grupos de seguidores", diz Wu, da Universidade Stanford e do think tank Asia Society, nos EUA.

Uma característica da liderança de Xi nos últimos dez anos tem sido a centralização da tomada de decisões, que reduziu a influência de outros líderes seniores. Ele já desbaratou as redes antes poderosas alinhadas a seus predecessores Hu Jintao e o falecido Jiang Zemin.

Embora não criem qualquer ameaça à hegemonia férrea, as novas facções vão competir por controle e influência –e, em última análise, para determinar quem vai sucedê-lo no partido.

Analistas creem que entender o passado, as personalidades, as tendências ideológicas, as preferências políticas e as redes pessoais dos principais assessores de Xi é crucial para elucidar o mundo obscuro e muitas vezes imprevisível da política chinesa. "A concorrência entre facções será inevitável nos próximos anos", diz Wu. "A mudança geracional, em termos de circulação das elites internas e sucessão no poder, também vai alimentar disputas entre as facções que estão começando a tomar forma abaixo do líder."

Em seu artigo, Wu aponta que quatro grupos importantes incluem pessoas que trabalharam com Xi em Fujian, Zhejiang e Xangai, além de Shaanxi, província do norte do país onde a família do dirigente tem raízes profundas.

Wu menciona cinco outros grupos, incluindo alguns funcionários dos setores militar e industrial, nomes vinculados à prestigiosa Universidade Tsinghua, membros ligados à Escola Central do Partido, vários funcionários com laços aparentes com a esposa de Xi, Peng Liyuan, e um grupo do setor de segurança.

"Olhando para o quadro maior, a ascensão do grupo militar e industrial parece ser indicativa da nova estratégia de desenvolvimento econômico e tecnológico, com ênfase na capacidade do Estado de promover o progresso tecnológico e com redução da influência do setor privado na economia."

Victor Shih, da Universidade da Califórnia em San Diego, é especialista na elite chinesa. Ele identificou os grupos mais importantes como sendo os que Xi formou quando foi governador de Fujian e Zhejiang, além dos assessores do norte do país nomeados aos poderosos órgãos de combate à corrupção.

Os protegidos de Xi em Fujian incluem He Lifeng, que deve assumir o lugar de Liu He como czar econômico; Cai Qi, novo diretor de propaganda e ideologia do partido; e o ministro da Segurança Pública, Wang Xiaohong. Todos estiveram no tempo em que o hoje líder governou a província, de 1999 a 2002.

"É uma combinação muito poderosa", diz Shih. "Foi o período mais longo na carreira de Xi. Ele passou mais de uma década em Fujian. Por isso aquele lugar o marcou profundamente, e ele marcou o lugar."

Os assessores vindos de Zhejiang, onde Xi foi chefe do partido entre 2002 e 2007, incluem Li Qiang, membro do Comitê Permanente do Politburo e o nome mais cotado para ser o próximo premiê, além do chefe do partido em Guangdong, Huang Kunming, e o novo ministro de Segurança do Estado, Chen Yixin.

Cheng Li, especialista em política chinesa do Brookings Institution, afirma que os analistas estão apenas nos estágios iniciais de ganhar uma compreensão da nova paisagem, "altamente complexa".

Isso requer reiniciar as análises da vasta teia de redes pessoais da liderança, além das diferenças de política, ideologia e influência. Mesmo assim, Joseph Torigian, especialista na elite chinesa na American University em Washington, destaca que os observadores da China têm histórico fraco em prever os resultados das manobras contemporâneas sigilosas em Pequim. Mas ele também traça paralelos com a era de Mao, quando o ditador expurgou líderes de sua geração e promoveu figuras mais jovens.

"Certamente havia competição entre os diferentes grupos promovidos após a ‘faxina’ mais recente, mas o que eles faziam principalmente era tentar intuir o que o líder máximo desejava e entregar a ele o melhor."

Não importam as facções que venham a tomar forma nos altos escalões do PC Chinês, elas também correm o risco de provocar a ira de Xi, que já reprimiu quaisquer ameaças à sua hegemonia que pudesse discernir.

Nos meses que antecederam o congresso do partido, realizado em outubro, ex-funcionários da Justiça e da Segurança Pública acusados de integrar uma "gangue política" desleal ao líder chinês foram condenados a penas longas de prisão. Torigian destaca que agrupamentos políticos desse tipo na China "raramente chegam a formar algo tão coeso quanto ao que nós consideraríamos ser uma facção".

"As pessoas não querem passar a impressão de estarem cooperando demais umas com as outras, porque isso seria um sinal imediato de alerta para Xi Jinping. Ele iria querer destruir essa coesão."

Tradução de Clara Allain

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