Veto da Rússia extingue grupo que fiscaliza sanções da ONU a programa nuclear da Coreia do Norte

Moscou acusa Estados Unidos e aliados de 'estrangularem' regime de Kim Jong-Un; China se abstém

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Reuters

A Rússia disse nesta sexta-feira (29) que as grandes potências precisam de uma nova abordagem em relação à Coreia do Norte, acusando os Estados Unidos e seus aliados de aumentarem as tensões militares na Ásia e de tentarem "estrangular" a ditadura de Kim Jong-un.

Moscou exerceu seu poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas, nesta quinta-feira (28) para barrar a renovação anual de um painel de especialistas que monitoram a aplicação de sanções da organização contra Pyongyang contra seus programas de armas nucleares e mísseis balísticos.

O ditador norte-coreano, Kim Jong-un, cumprimenta o presidente russo, Vladimir Putin, em visita de Kim à Rússia, em setembro passado
O ditador norte-coreano, Kim Jong-un, cumprimenta o presidente russo, Vladimir Putin, em visita de Kim à Rússia, em setembro passado - Agência Estatal da Coreia do Norte - 13.set.2023 via Reuters

O grupo de monitoramento reportava-se duas vezes ao ano ao Conselho de Segurança da ONU, com recomendações de ações para aprimorar a implementação do regime de sanções.

A ação de Moscou, que prejudica a aplicação das medidas restritivas impostas após a ditadura realizar seu primeiro teste nuclear em 2006, reflete o dividendo de Kim ao se aproximar do presidente russo, Vladimir Putin, em meio à Guerra da Ucrânia.

"Para nós, é óbvio que o Conselho de Segurança da ONU não pode mais usar modelos antigos em relação aos problemas da península da Coreia", disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova.

Zakharova afirmou que os EUA estavam aumentando as tensões militares na região. Segundo a porta-voz, as restrições internacionais não melhoraram a situação de segurança e havia graves consequências humanitárias para a população da Coreia do Norte.

"Os Estados Unidos e seus aliados demonstraram claramente que seu interesse não se estende além da tarefa de 'estrangular' a Coreia do Norte por todos os meios disponíveis, e um acordo pacífico não está em pauta de forma alguma", disse.

A votação teve ainda a abstenção da China, também aliada e principal parceira econômica da ditadura norte-coreana, que se recusou a "impor sanções cegamente" a Pyongyang. Todos os outros membros, permanentes e rotativos, votaram a favor da renovação do grupo de monitoramento.

"A situação na península continua tensa, e impor sanções cegamente não resolverá o problema. O único caminho é uma solução política", afirmou Lin Jian, porta-voz do chancelaria chinesa.

O veto russo é visto como um grande ponto de inflexão no regime de sanções internacionais contra a Coreia do Norte, formada em 1948 com o apoio da então União Soviética, enquanto a Coreia do Sul era apoiada pelos Estados Unidos.

A Coreia do Norte é o único país a ter realizado testes nucleares no século 21: em 2006, 2009, 2013, duas vezes em 2016 e em 2017, de acordo com as Nações Unidas.

A Rússia disse que o trabalho do painel de especialistas não era objetivo e imparcial, e que eles se tornaram uma ferramenta do Ocidente. "O Grupo de Especialistas do Comitê 1718 do Conselho de Segurança da ONU perdeu todos os padrões de objetividade e imparcialidade, que deveriam ser características integrais de seu mandato", disse Zakharova.

A porta-voz afirmou que os especialistas "se tornaram uma ferramenta obediente dos oponentes geopolíticos da Coreia do Norte. Não há sentido em mantê-los nessa forma".

A Rússia busca um compromisso no qual as sanções seriam revisadas dentro de prazos específicos, embora essa proposta tenha sido recebida com "hostilidade" por Washington, segundo Zakharova.

Desde que Putin invadiu a Ucrânia em 2022, Moscou tem feito questão de exibir um renascimento de seu relacionamento com Pyongyang, incluindo seus laços militares. Kim visitou Putin no Extremo Oriente russo em setembro passado, em reunião vista como momento em que a reaproximação foi selada e que a Rússia solidificou seu apoio tecnológico na produção militar espacial e nuclear norte-coreana.

Washington diz que a Coreia do Norte forneceu em troca armamento convencional à Rússia que está sendo utilizado contra a Ucrânia, afirmações rejeitadas pelo Kremlin e por Pyongyang.

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