Rússia diz ter comprovado ligação da Ucrânia com atentado em Moscou

Comitê de Investigação fala em provas de financiamento dos terroristas e cita prisão de mais um suspeito

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São Paulo

O Comitê de Investigação da Rússia afirmou nesta quinta-feira (28) ter provas de que a Ucrânia tem ligações com o ataque terrorista que deixou mais de 140 mortos em Moscou na semana passada. De acordo com a comissão, os responsáveis pelo atentado receberam dinheiro de "nacionalistas ucranianos".

Sala de concertos Crocus City Hall, em Moscou, na Rússia, após ataque terrorista - Bai Xueqi/Xinhua

"Como resultado do trabalho com terroristas detidos [...], foram obtidas evidências de sua conexão com nacionalistas ucranianos", disse o comitê em nota.

"A investigação tem à sua disposição dados confirmados de que os autores do ataque terrorista receberam quantias significativas de dinheiro e criptomoedas da Ucrânia que foram utilizadas na preparação do crime", prossegue o texto, sem apresentar, no entanto, as supostas provas.

Ainda segundo o comunicado, um suspeito de envolvimento no presumido esquema de financiamento foi detido. Nas primeiras 24 horas após o ataque, ocorrido na sexta-feira passada (22), 11 pessoas haviam sido presas, e oito delas, incluindo os quatro supostos atiradores, foram presas preventivamente. Sete são do Tadjiquistão e a outra, do Quirguistão.

Durante o atentado, agressores abriram fogo no Crocus City Hall, uma casa de shows ao lado de um shopping que fica 20 km a noroeste do Kremlin, o coração da capital russa. Segundo cifras oficiais, o ataque deixou 143 mortos e 182 feridos, mas ainda há quase cem desaparecidos.

Os atiradores mataram os seguranças do local ao invadi-lo e abriram fogo contra a plateia, que incluía crianças. Depois, explodiram duas bombas, deixando o prédio em chamas. A banda de rock da era soviética Piknik começaria um show no lugar, que tem 6.200 assentos e estava com os ingressos todos vendidos.

O Estado Islâmico (EI) reivindicou a autoria do ataque, mas isso não foi suficiente para dissipar a desconfiança do Kremlin em relação ao país vizinho, com quem trava uma guerra desde 2022. A narrativa oficial tem insistido que combatentes islâmicos não seriam capazes de fazer o ataque sozinhos e que Kiev pode ter participado dele.

Na terça-feira (26), por exemplo, o diretor da agência de segurança FSB (Serviço Federal de Segurança, o principal sucessor da KGB soviética) disse acreditar que a Ucrânia, juntamente com os Estados Unidos e o Reino Unido, estava envolvida no atentado.

Um dia depois, nesta quarta (27), a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia Maria Zakharova afirmou à imprensa ser "extremamente difícil de acreditar" que o EI teria capacidade para uma ação dessa magnitude.

"Para afastar suspeitas, eles precisavam urgentemente inventar algo, então recorreram ao EI e tiraram um ás da manga. Literalmente algumas horas após o ataque terrorista, a mídia anglo-saxônica começou a disseminar essas versões", disse ela na ocasião.

Outras versões que circulam na mídia russa afirmam que o atentado não tem a marca do EI, já que os atiradores teriam recebido dinheiro e fugido após abrir fogo quando, em ações anteriores, terroristas continuaram atacando até serem derrubados, quando não atuaram como homens-bombas.

Em entrevista a jornalistas, o porta-voz de Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, reagiu à acusação da Rússia e disse que o seu país alertou Moscou sobre a possibilidade de um ataque reiteradas vezes.

"É absolutamente claro que o EI foi o único responsável pelo horrível ataque em Moscou na semana passada", disse ele, que classificou as alegações russas sobre um suposto financiamento ucraniano de "bobagem e propaganda". "Os EUA tentaram ajudar a prevenir esse atentado terrorista, e o Kremlin sabe disso."

Kirby detalhou que Washington fez múltiplos avisos às autoridades russas sobre riscos de ataques de radicais em shows e grandes aglomerações em Moscou, incluindo um por escrito no dia 7 de março, às 11h15.

Autoridades americanas disseram ainda ter informações que mostravam a participação do braço afegão do grupo, o Estado Islâmico Khorasan. Nesta quinta, o porta-voz do EI publicou um áudio no canal da organização no Telegram celebrando o atentado, reportou a agência de notícias Reuters.

Analistas de segurança ocidentais dizem que o ataque levanta questões sobre o financiamento e as prioridades das agências de inteligência russas, que estiveram fortemente centradas na Guerra da Ucrânia e na necessidade de reprimir a oposição interna ao conflito desde o seu princípio.

Com Reuters

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