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Jan Lipavsky

A Tchéquia está de volta ao Brasil

É hora de reparar uma dívida de mais de 20 anos sem uma visita ao país de um ministro tcheco dos Negócios Estrangeiros

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Jan Lipavsky

Ministro dos Negócios Estrangeiros da República Tcheca. Foi deputado do Parlamento da República Tcheca de 2017 a 2021; é autor da versão tcheca do projeto legislativo em matéria de sanções, a chamada Lei Magnitsky

Os desafios históricos surgem muitas vezes sem aviso prévio e provocam mudanças dramáticas na esfera internacional e na vida das nossas nações. Acredito que hoje vivemos em tempos assim, e é sempre melhor enfrentar esses momentos com amigos a nosso lado do que sozinhos. Há mais de 20 anos que um ministro dos Negócios Estrangeiros tcheco não visita o Brasil. É, portanto, hora de reparar esta dívida.

Apesar da distância geográfica, a República Tcheca e o Brasil têm uma forte amizade baseada em valores partilhados e numa cooperação mutuamente benéfica. Devemos esta relação estreita aos nossos compatriotas que, desde meados do século 19, vêm para o Brasil a partir da atual República Tcheca. Em meados do século 20, um dos mais importantes industriais checoslovacos do seu tempo, Jan Antonín Bata, fundou cinco cidades no Brasil e contribuiu para o povoamento de Mato Grosso do Sul e o desenvolvimento da indústria de calçado e couro. Também o presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976) era de ascendência tcheca e marcou a história do Brasil ao fundar a capital, Brasília.

No entanto, as nossas relações atuais e o nosso potencial não se limitam somente ao passado. O governo tcheco há muito tempo constrói ativamente laços com parceiros democráticos, e o Brasil é um desses parceiros. Como uma grande potência regional e um ator importante que enfatiza as suas responsabilidades globais, é um parceiro estratégico para a República Tcheca. Tanto na esfera política como na esfera econômico-comercial.

Petr Pavel é o presidente da República Tcheca - David W. Cerny - 28.jan.23/Reuters

A cooperação com o Brasil é de importância vital para a República Tcheca, e há duas razões principais que me levam a visitar o Brasil.

A primeira é a segurança e o respeito pelo direito internacional. Há um conflito bélico em curso na Europa perto das nossas fronteiras. A agressão gratuita da Rússia contra a Ucrânia está a ter um impacto em todo o continente e, consequentemente, em todo o mundo. A segurança na Europa tem um impacto na segurança da América Latina e vice-versa. Se deixássemos que a Rússia destruísse a Ucrânia e que a sua agressão ficasse impune, estaríamos a abrir a porta a outros agressores. Acreditamos que devemos ajudar os injustamente atacados, e é por isso que o nosso país está ajudando a Ucrânia com ajuda humanitária, ajuda financeira e fornecimento de equipamento militar.

A República Tcheca, a título de exemplo, acolheu meio milhão de refugiados ucranianos, o que representa o maior número per capita do mundo. Para a República Tcheca, o respeito pela Carta das Nações Unidas e pela ordem internacional baseada em regras é crucial. Não estamos a esquecer a nossa própria e trágica experiência histórica de ocupação e opressão estrangeira. Esta experiência dotou-nos de uma simpatia e solidariedade especiais para com aqueles cuja independência, soberania e integridade territorial estão ameaçadas.

O Brasil, sendo uma potência cada vez mais importante na cena mundial e o país que detém a presidência em exercício do G20 este ano, tem o direito de fazer ouvir a sua voz e de ser tomado em consideração. Mas esse direito também implica a responsabilidade pela estabilidade do mundo.

A segunda razão são as fortes relações de amizade baseadas em valores partilhados. Com o Brasil, partilhamos os princípios democráticos, o respeito pelos direitos humanos ou o meio ambiente. A nossa diplomacia e as empresas tchecas valorizam o Brasil pela sua ênfase no desenvolvimento sustentável, nas energias limpas e na proteção do ambiente. Acreditamos que, nos próximos anos, o Brasil abrirá amplas oportunidades de negócio e investimento nestes setores. De particular interesse para os investidores tchecos é o setor da energia hidroelétrica, no qual estão ativos tanto a nível nacional como internacional. Ao mesmo tempo, estas são as áreas em que estamos a procurar intensamente uma cooperação mais ampla, tanto na pesquisa como no campo universitário.

A cooperação comercial e o investimento têm um enorme potencial para um maior desenvolvimento no futuro. O mercado brasileiro atrai as empresas tchecas com as suas oportunidades atrativas de crescimento e expansão. No contexto de uma economia tcheca aberta, o comércio externo desempenha um papel fundamental, e as empresas estão abertas à cooperação.

Recentemente, a cooperação com o Brasil foi significativamente reforçada em várias áreas-chave, como a defesa, a indústria aeroespacial e a indústria energética. As nossas relações nestes setores funcionam bem, incluindo a participação tcheca na produção do avião militar brasileiro C-390. Outra conquista concreta é o recente lançamento de negociações sobre a compra destes dois aviões para o Exército tcheco.

Estou ansioso por conhecer a cultura, a beleza e a hospitalidade deste maravilhoso país e acredito que as nossas relações serão ainda mais fortes do que nunca. A proteção da ordem internacional é do interesse de todos nós. Hoje, podemos lamentar o fato de o mundo ter ficado tão instável ou podemos agir para restaurar a estabilidade. O lema do governo brasileiro é "O Brasil está de volta". Permitam-me parafrasear este lema e sublinhar que "A República Tcheca está de volta ao Brasil".

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