Embraer vende avião militar KC-390 para mais um país da Otan

República Tcheca, que aumentou gasto com defesa devido à Guerra da Ucrânia, é o 5º cliente europeu da brasileira

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O governo da República Tcheca anunciou nesta terça (17) que selecionou o KC-390, da brasileira Embraer, como seu novo avião de transporte militar. É o quinto país a fazer isso na Europa e o terceiro da Otan, a aliança militar ocidental, consolidando a entrada da fabricante brasileira neste mercado.

O país do Leste Europeu quer adquirir duas aeronaves. Hoje, o país não tem um cargueiro médio como o KC-390, e depende de uma frota de 15 aviões de pequeno porte. A aeronave brasileira leva até 26 toneladas. Os valores ainda serão negociados.

Um KC-390 da Força Aérea Brasileira pousa na base aérea de Anápolis, em Goiás
Um KC-390 da Força Aérea Brasileira pousa na base aérea de Anápolis, em Goiás - Evaristo Sá - 19.dez.2022/AFP

"Estamos honrados pela seleção do Ministério da Defesa e das Forças Armadas para iniciar as negociações desta aquisição significativa. Estamos prontos para fornecer à República Tcheca a mais avançada aeronave de transporte tático disponível no mercado", disse em nota Bosco da Costa Junior, presidente e CEO da Embraer Defesa & Segurança.

"O C-390 Millennium está atraindo a atenção de várias nações ao redor do mundo, devido à sua combinação imbatível de alta produtividade e flexibilidade operacional com baixos custos operacionais", disse, referindo-se ao nome que a Embraer prefere para vender o avião, que sem o "K" na sigla significa que não tem a capacidade de reabastecer outras aeronaves em voo.

No mês passado, a empresa brasileira havia fechado um acordo para fornecer até cinco unidades para a Áustria, país que não é da Otan mas opera de forma muito próxima ao clube militar. Os outros clientes, todos da aliança, são Portugal (5 aviões), Hungria (2) e Holanda (5).

No ano passado, quando a Holanda anunciou a intenção da compra, o governo informou ao Parlamento que ela sairia por algo entre € 1 bilhão (R$ 5,3 bilhões hoje) e € 2,5 bilhões (R$ 13,3 bilhões). No caso húngaro, cada avião saiu por US$ 150 milhões (cerca de R$ 756 milhões). Tudo depende do pacote de suporte entregue e do pós-venda.

A República Tcheca era um alvo óbvio da Embraer pela sua lacuna na aviação de transporte e pelo fato de ter uma empresa, a Aero Vodochody, como fornecedora de partes da fuselagem, portas e rampa de carga do KC-390.

O projeto começou em 2008 e o avião teve como seu primeiro cliente o Brasil, que reduziu de 28 para 19 unidades sua encomenda em 2021. Já há seis unidades do cargueiro voando no país, e elas estão em uso na operação para a repatriação de brasileiros que querem fugir da guerra entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas.

Os tchecos também operam hoje 14 caças Gripen C/D, a geração anterior da comprada pelo Brasil da sueca Saab, mas já escolheram outro modelo para substituí-lo, o americano F-35. No mês passado, Praga anunciou que compraria 24 desses aviões.

Tudo isso é reflexo da mudança no cenário de segurança europeia devido à invasão russa da Ucrânia, em 2022. A República Tcheca anunciou que irá elevar seu gasto militar dos atuais 1,3% do Produto Interno Bruto para 2%, que é a marca considerada desejável pela Otan e que apenas 7 dos então 30 membros do clube em 2022 cumpriam —a Finlândia entrou em abril, e a Suécia está na fila, tudo cortesia da guerra de Vladimir Putin.

O principal objetivo da Embraer é o nicho do C-130 Hércules, mais famoso avião de transporte do mundo, que voa desde os anos 1950. O quadrimotor americano domina o mercado na Europa, com 140 de 160 aeronaves.

Apesar de fortemente modernizado, não é um projeto do século 21 como o do KC-390, principal ponto de venda do brasileiro. Segundo a Embraer, a partir de dados operacionais da FAB (Força Aérea Brasileira), a aeronave tem cerca de 80% de disponibilidade, índice considerado alto, e 99% de aproveitamento de missões.

O próximo país que deve adquiri-lo na Europa é a Suécia, numa negociação que envolve um aditivo ao contrato de compra de 36 Gripen E/F pelo Brasil. No arranjo, Estocolmo deveria comprar até quatro aeronaves, e a FAB expandiria sua frota para 50 aeronaves sem precisar fazer uma negociação do zero.

O ministro José Múcio (Defesa) estava a caminho da Suécia para discutir o negócio na semana passada, mas teve de voltar ao país para coordenar a operação de resgate dos brasileiros em Israel e Gaza. Há sondagens para vendas potenciais também à Eslováquia, membro da Otan, Egito, África do Sul e Ruanda.

A divisão de defesa da Embraer respondeu em 2022 por 10% do resultado da empresa, que é a terceira maior fabricante de aviões comerciais do mundo e teve uma receita global de R$ 23 bilhões.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.