Descrição de chapéu Rússia União Europeia

Agência que abrigou espião russo no Brasil já foi alvo de investigação nos EUA e na Alemanha

União Europeia também sancionou a Rossotrudnichestvo em meio à Guerra da Ucrânia, sob a acusação de apoiar ações contra a integridade territorial de Kiev

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Brasília

A entidade cultural que abrigava o espião Serguei Chumilov no Brasil e agência à qual ela é ligada já foram acusadas nos Estados Unidos e na Europa de usar sua estrutura e funcionários em ações de espionagem —tal como no caso de Chumilov, revelado pela Folha.

Ainda em 2013, o FBI, a polícia federal americana, passou a investigar um diplomata russo que era o diretor em Washington de um programa de intercâmbio da Rossotrudnichestvo, agência federal que busca difundir a cultura russa e aumentar a "influência humanitária" do país, segundo o site da entidade.

Ele estaria recrutando jovens americanos que viajavam à Rússia para supostos fins acadêmicos, mas que na volta atuariam como espiões.

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Os chanceleres do Brasil e da Rússia, Mauro Vieira e Serguei Lavrov, durante reunião no Palácio do Itamaraty - Pedro Ladeira - 17 abr. 2023/Folhapress

Os agentes iniciaram uma série de interrogatórios com americanos que teriam participado desses programas de estudo oferecidos pelo representante local da Rossotrudnichestvo, Iuri Zaitsev. A Rússia, à época, negou as acusações de espionagem.

A agência também deixou em alerta a União Europeia por sua suposta interferência em eleições de países membros do bloco, como a Holanda.

Em janeiro de 2023, uma investigação da agência de notícia Reuters indicou que ativistas pró-Moscou em Berlim seriam financiados pelos órgãos culturais e estudantis russos no país. Eles organizavam manifestações em algumas cidades alemãs.

Também foi mostrado que a Rossotrudnichestvo pagou a passagem de avião de um dos ativistas para que ele viajasse a uma conferência em Moscou em que o principal palestrante seria o presidente Vladimir Putin. Esse mesmo agente também teria viajado para áreas controladas pela Rússia em território ucraniano.

Procuradores alemães abriram uma investigação sobre a atuação da Rossotrudnichestvo no país.

A entidade já foi alvo de sanções da União Europeia por causa da Guerra da Ucrânia. Em 2022, após a invasão russa, o Conselho Europeu aprovou uma regulamentação na qual aumentou a lista de pessoas russas e entidades sancionadas –a primeira relação datava de 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia. O novo documento incluiu a Rossotrudnichestvo.

O documento descreve a agência como o principal instrumento de "soft power" e "influência híbrida" para promover o conceito de Russkiy Mir: a unificação da população de língua russa em todo o mundo.

"Por muitos anos, ela tem atuado como uma organização ‘guarda-chuva’ que reúne uma rede de compatriotas russos e influenciadores, além de financiar vários projetos de diplomacia e propaganda, consolidando as atividades de agentes pró-Rússia e disseminando as narrativas do Kremlin, incluindo revisionismo histórico", afirma o texto.

A regulamentação ainda acrescenta que a agência organiza eventos para consolidar a visão de que as áreas da Ucrânia ocupadas são territórios russos.

"Assim, a Rossotrudnichestvo é responsável por apoiar ou implementar ações ou políticas que minam ou ameaçam a integridade territorial, a soberania e a independência da Ucrânia ou a estabilidade do país".

Em 2016, o Parlamento Europeu já havia aprovado uma resolução na qual associava a agência federal a desinformação e guerra de propaganda. O texto criou uma estratégia de comunicação para a União Europeia reagir à propaganda contra o bloco executada por terceiros.

Procurada, a embaixada da Rússia em Brasília não respondeu aos questionamentos.

A Rossotrudnichestvo administra as Russky Dom (Casas Russas), entidades culturais que Moscou mantém em diversos países para difundir a cultura e o idioma russos. São as equivalentes russas ao British Council, do Reino Unido. Como a agência gerencia cursos de idioma, programas de cooperação e intercâmbios culturais, seus representantes costumam circular em universidades nos países onde atuam.

Governos ocidentais suspeitam que essa movimentação seja usada justamente para recrutar jovens espiões estrangeiros, como era o caso de Serguei Chumilov no Brasil. Após a Abin "queimar" o agente –descobrir a sua atuação clandestina–, houve uma articulação política, e a própria embaixada russa solicitou a retirada de sua acreditação diplomática ao Ministério das Relações Exteriores no Brasil.

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