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Alemanha anuncia maior reforma em suas Forças Armadas desde a Guerra Fria

Ministro da Defesa afirma que aprendeu lições com a Guerra da Ucrânia e fala em mudanças culturais e estruturais

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Sam Jones
Berlim | Financial Times

A Alemanha revelou as reformas militares mais abrangentes desde a Guerra Fria, incluindo o possível retorno do serviço militar obrigatório, como parte dos esforços para melhor preparar suas forças armadas para defender o território da Otan.

Falando em Berlim nesta quinta-feira (4), no 75º aniversário da aliança militar ocidental, o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, disse que assinou uma ordem para reorganizar o Exército alemão de cima a baixo.

"É uma reforma histórica. Nosso objetivo é reestruturar as Bundeswehr [Forças Armadas da Alemanha] de forma que esteja melhor posicionada em caso de defesa, em caso de guerra", disse Pistorius. "Ninguém deve ter a ideia de atacar o território da Otan; isso é o que queremos transmitir."

Ministro da Defesa alemão Boris Pistorius anuncia a decisão da nova estrutura geral das Forças Armadas da Alemanha, em Berlim - Lisi Niesner/Reuters

As medidas fazem parte de uma grande mudança na atitude da Alemanha em relação às suas Forças Armadas, refletindo o que o primeiro-ministro Olaf Scholz disse ser uma zeitenwende —um ponto de virada na política de segurança após a decisão da Rússia de invadir a Ucrânia há dois anos.

Um único comando operacional assumirá o controle de quatro novas forças componentes, com a guerra cibernética elevada a um patamar igual ao das operações terrestres, aéreas e marítimas.

Os oficiais militares responsáveis pela elaboração dos planos têm seis meses para implementá-los. Uma demanda-chave do ministério é que as Bundeswehr estejam prontas para o serviço militar obrigatório na Alemanha, disse Pistorius, caso seja tomada a decisão de reintroduzi-lo. O país interrompeu seu serviço militar obrigatório —assim como a opção de servir em instituições não militares— em 2011.

Uma proposta do Ministério da Defesa sobre um modelo de serviço nacional para jovens adultos será apresentada aos políticos alemães nas próximas semanas, acrescentou o ministro. O chamado "modelo escandinavo", em que qualquer serviço militar seria efetivamente voluntário e neutro em relação ao gênero, como é o caso de países como a Suécia, é visto como um candidato provável.

Pistorius disse ainda que as medidas restabelecerão as Bundeswehr "para um novo velho desafio". A nova abordagem de Berlim impulsionou um aumento significativo nos gastos com defesa da Alemanha, com a maior economia da Europa atingindo neste ano as metas da Otan de gastar 2% do PIB em defesa pela primeira vez em décadas.

Desde que assumiu o controle do Ministério da Defesa em janeiro de 2023, Pistorius tem enfatizado que outras mudanças culturais e estruturais são igualmente vitais se a Alemanha quiser cumprir seus compromissos com a Otan e ajudar a dissuadir a agressão russa.

A reforma da estrutura das Bundeswehr tem sido uma prioridade máxima. Com um olhar atento para a forma como a Rússia travou a guerra na Ucrânia, os oficiais do Ministério da Defesa e os militares têm planejado uma revisão radical nos últimos meses.

A estrutura existente das Bundeswehr evoluiu aos poucos ao longo de três décadas para responder amplamente a operações de "gestão de crises" na Alemanha e situações humanitárias no exterior.
Hoje as Forças Armadas têm dois comandos operacionais, seis áreas organizacionais militares e 27 agências separadas de planejamento e coordenação.

Embora seja uma das maiores forças militares da Otan, com 182 mil homens e mulheres servindo, sua estrutura dispersa a deixou mal posicionada para os desafios estratégicos enfrentados por Berlim e seus aliados da Otan.

As reformas permitirão às Bundeswehr tomar "decisões rápidas", disse Pistorius, e darão aos ministros alemães, bem como aos aliados da Otan, uma relação mais clara e direta com o comando militar.

Elevar as capacidades cibernéticas e unificar os vários componentes existentes das Forças Armadas em quatro ramos claros também tornaria mais barato e eficiente realizar as atualizações técnicas urgentemente necessárias para lutar em uma guerra futura, argumentou o ministro, apontando para a Guerra da Ucrânia como um instrumento de aprendizado.

"Não há guerra, e quase nenhuma situação de combate [que observamos] na Ucrânia, onde a capacidade de comando e controle digital não desempenhe um papel central para garantir que uma batalha possa ser [vencida]", disse Pistorius.

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