Descrição de chapéu The New York Times

Tentativa de proibir conferência conservadora em Bruxelas vira arma para ultradireita na Europa

Emir Kir, subprefeito de um bairro da capital belga, fracassou ao tentar dispersar reunião que teria presença de Orbán

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Andrew Higgins
The New York Times

Um subprefeito de Bruxelas enviou policiais para dispersar um encontro que reuniria, na terça-feira (16), conservadores autodenominados "anti-woke" de toda a Europa, incluindo o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, sob a justificativa de que a ultradireita não era "bem-vinda" ali.

Emir Kir, membro do Partido Socialista e subprefeito de um bairro central de Bruxelas onde ocorreu a reunião, emitiu uma ordem para encerrar a Conferência Nacional de Conservadorismo alegando a necessidade de garantir "segurança pública".

Policiais guardam local onde ocorria a conferência Conservadorismo Nacional, em Bruxelas, na Bélgica - Yves Herman - 16.abr.2024/Reuters

No entanto, para críticos, a medida apenas amplificou um dos principais temas do encontro: a suposta falta de controle da cultura do cancelamento contra vozes conservadoras.

"É isso que estamos enfrentando. Estamos enfrentando uma ideologia maligna. Estamos enfrentando uma nova forma de comunismo", declarou Nigel Farage, do Reino Unido. Ex-membro do Parlamento Europeu e entusiasta da saída de seu país da União Europeia, em 2020, Farage estava se preparando para falar quando as autoridades chegaram. "Isso é como a antiga União Soviética. Nenhuma visão alternativa permitida", disse.

Um pequeno grupo de policiais belgas entrou no local da conferência e se retirou logo após informar aos organizadores que o evento deles havia sido proibido, deixando os participantes à vontade para denunciar o que consideram uma intolerância de esquerda.

A intervenção recebeu uma forte repreensão do primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, um opositor de centro-direita do Partido Socialista. Em uma postagem nas redes sociais, ele disse que a Constituição da Bélgica garante a liberdade de expressão e que "proibir reuniões políticas é inconstitucional". O que aconteceu, declarou, "é inaceitável".

Orbán, que tem tentado se posicionar como líder de um movimento pan-europeu contra o que chama de "Golias woke", não parecia estar no local quando a polícia chegou. Mas ele postou uma mensagem na rede social X comparando a intervenção fracassada às ações das autoridades comunistas da Hungria em 1988, quando as forças de segurança tentaram em vão silenciar vozes dissidentes antes do colapso do regime.

"Não desistimos naquela época e não desistiremos desta vez também!", escreveu o político.

Os veículos de mídia húngaros controlados pelo partido Fidesz, de Orbán, usaram o tumulto como uma evidência da importância do líder húngaro contra o establishment europeu. "Toda Bruxelas está trabalhando para silenciar Viktor Orbán", afirmou uma manchete no Magyar Nemzet, um site de notícias online e porta-voz da propaganda.

O evento foi o mais recente de uma série de conferências conservadoras, incluindo uma realizada em Bruxelas há dois anos sem incidentes, organizadas pela Fundação Edmund Burke, um grupo cujo objetivo declarado é "fortalecer os princípios do conservadorismo nacional".

Yoram Hazeny, presidente israelense-americano da fundação, afirmou na terça que os policiais enviados para encerrar o evento "ficaram assustados" quando foram cercados por televisões ao entrarem no prédio e saíram. Ele disse ter sido informado pela polícia de que a conferência de dois dias seria "fechada gradualmente" e então pediu que os participantes não saíssem do prédio, porque eles não seriam autorizados a voltar.

O evento seria realizado inicialmente no Concert Noble, um antigo salão de baile grandioso que abriga cerimônias de alto padrão, mas foi transferido para um hotel de luxo após perder a reserva devido a protestos de ativistas de esquerda. Quando o hotel, sob pressão de outro subprefeito de Bruxelas, também cancelou, a conferência foi transferida para o Claridge, um espaço de eventos e casa noturna perto da sede da União Europeia.

Kir, subprefeito do distrito de Saint-Josse-ten-Noode, onde fica o Claridge, não deu explicações para a proibição da conferência além da alegada "garantia da segurança pública". As autoridades pareciam preocupadas que ativistas radicais de esquerda pudessem entrar em conflito com os participantes conservadores.

Um grupo chamado Coordenação Antifascista da Bélgica havia prometido perturbar a reunião sob a justificativa de que "discursos de ódio nunca são justificados pela liberdade de expressão". Eles convocaram um protesto na noite de terça perto da conferência.

Muitos dos palestrantes programados para participar da reunião eram políticos da ultradireita convencional, como o ex-primeiro-ministro da Polônia Mateusz Morawiecki, que deixou o cargo após seu partido perder a maioria parlamentar na eleição geral de outubro.

Mas também estava ali Éric Zemmour, candidato das eleições presidenciais da França em 2022 que foi condenado por incitar ódio racial após dizer na televisão, em 2020, que migrantes menores de idade desacompanhados eram "ladrões", "estupradores" e "assassinos". Os organizadores disseram que a polícia que guardava o local impediu Zemmour de entrar.

Após a breve intervenção policial, Suella Braverman, ex-secretária do Interior do Reino Unido e popular entre políticos anti-imigração do Partido Conservador, que está no poder, disse: "Se ao menos os globalistas em Bruxelas colocassem tanta energia em garantir nossas fronteiras quanto colocam para tentar calar os conservadores, talvez nosso continente estivesse em um estado mais saudável."

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