Israel repete ordem de saída a civis nas regiões de Khan Yunis e Rafah após disparos de foguetes

Tel Aviv liberta mais de 50 palestinos, entre eles diretor do hospital al-Shifa, que diz ter sofrido tortura em cativeiro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Jerusalém | AFP e Reuters

Em nova sinalização de que as ofensivas na Faixa de Gaza ainda estão longe do fim, o Exército de Israel voltou a ordenar nesta segunda (1º) a saída de civis em áreas próximas de Rafah e de Khan Yunis, cidades no sul do território palestino que têm sido o epicentro dos combates contra o Hamas.

A determinação ocorreu após o lançamento de quase 20 projéteis contra Israel a partir de Khan Yunis. O bombardeio foi reivindicado pelas Brigadas Al-Quds, ala armada do Jihad Islâmico, que descreveu a ofensiva como uma resposta "aos crimes do inimigo sionista contra o povo palestino".

Palestinos observam prédios destruídos em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza - Eyad Baba/AFP

O grupo, que tem lutado contra a incursão israelense a Gaza ao lado da facção terrorista Hamas, é o segundo maior no território palestino. Agências de inteligência dos Estados Unidos estimam que o Jihad tenha cerca de mil integrantes, ante 20 mil a 25 mil do Hamas.

Em nota, as forças israelenses disseram que não houve mortos ou feridos. O ataque sinalizou, contudo, que as facções de Gaza ainda possuem capacidade bélica —mesmo após quase nove meses de uma guerra que reduziu a faixa palestina a destroços e deixou ao menos 37.900 mortos, segundo dados divulgados pelo Hamas.

Em resposta ao disparo de foguetes, as autoridades israelenses ordenaram o esvaziamento de várias cidades pequenas, entre as quais Al-Qarara e Bani Suheila, próximas de Khan Yunis e de Rafah. Várias pessoas já deixaram a região em um novo fluxo forçado durante a guerra, disseram testemunhas à agência de notícias AFP.

Também nesta segunda, Israel libertou 54 palestinos que vinha mantendo em suas prisões, segundo a rede qatari Al Jazeera, devido à lotação de presídios no Estado judeu. Entre eles estava Mohamed Abu Salmiya, diretor do hospital Al-Shifa. Referência na região antes da guerra, o centro de saúde foi completamente destruído após ter sido ocupado duas vezes pelo Exército de Tel Aviv.

Capturado por Israel em novembro, Mohamed Abu Salmiya, diretor do hospital Al-Shifa, abraça uma parente no hospital Nasser, em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, após ser libertado - Bashar Taleb/AFP

Abu Salmiya havia sido detido na primeira destas incursões, em novembro. Falando a jornalistas após sua libertação nesta segunda, ele afirmou ter sido preso sem o devido processo legal e disse que ele e outros palestinos foram torturados na cadeia. "Durante dois meses, os detentos só comeram um pedaço de pão por dia", disse. Segundo ele, cada preso perdeu cerca de 30 kg e foi submetido a uma série de "humilhações físicas e psicológicas".

"Quebraram meu dedo mindinho e mais de uma vez espancaram a minha cabeça a ponto de ela sangrar. Muitos morreram em centros de interrogatório e foram privados de alimentos e remédios", afirmou. Segundo ele, a falta de cuidados médicos resultou na amputação de partes dos corpos de alguns de seus colegas.

Os presos —um grupo que incluía ainda Basam Miqdad, diretor do setor ortopédico do Hospital Europeu de Khan Yunis— foram soltos por meio de uma passagem ao leste de Khan Yunis, segundo um funcionário do Al-Aqsa.

Tel Aviv não comentou as acusações de Abu Salmiya. Em maio, no entanto, o governo israelense anunciou que abriria investigação para apurar mortes de palestinos capturados durante o conflito e suspeitas de violações de direitos humanos que teriam ocorrido em um campo administrado por militares.

O Exército de Israel afirma que o Hamas, que controla Gaza desde 2007, usa centros médicos com fins militares e chegou a divulgar em ocasiões anteriores vídeos do circuito interno de segurança do Shifa mostrando homens armados e reféns em suas instalações. Os terroristas negam as acusações.

Já a Cisjordânia ocupada voltou a ser palco de violência, segundo informações da Al Jazeera, com a morte de uma mulher de cerca de 40 anos e um menino de 15 anos na cidade de Tulkarm durante uma operação das forças israelenses. Na véspera, um ataque israelense à mesma área matou um membro do Jihad Islâmico.

Enquanto isso, tanques israelenses intensificaram sua ofensiva na Cidade de Gaza, no norte, pelo quinto dia seguido, e avançaram ainda mais no oeste e centro de Rafah, no sul da faixa, de acordo com relatos de moradores de ambas as regiões.

As tropas de Tel Aviv disseram ter encontrado grandes quantidades de armas em Shejaia, subúrbio da Cidade de Gaza, onde combates teriam resultado na morte de diversos terroristas palestinos.

Israel sinalizou que suas ações em Rafah serão concluídas em breve. Uma vez que isso aconteça, as forças se concentrariam em operações de menor escala, destinadas a impedir a reorganização do Hamas.

"Estamos avançando para o final da fase de eliminação do Exército terrorista do Hamas, e haverá uma continuação para atacar os remanescentes", disse o gabinete de Netanyahu em comunicado.

A cidade na fronteira com o Egito foi por meses considerada o último refúgio para cerca de 1 milhão de palestinos —quase 50% da população total da faixa. Desde maio, no entanto, ela é alvo de operações de Tel Aviv. Há duas semanas, o Exército israelense anunciou ter exterminado cerca de metade das forças do Hamas no local.

Do lado israelense, o Exército anunciou a morte de outro soldado no sul de Gaza, aumentando para 317 o número de militares mortos desde o início da guerra.

Enquanto isso, os esforços para garantir um cessar-fogo continuam estagnados. O Hamas diz que qualquer acordo deve acabar com a guerra e garantir a retirada das tropas de Tel Aviv da faixa. Israel, por sua vez, afirma que aceitará apenas pausas temporárias nas batalhas até que o grupo terrorista, que controla Gaza desde 2007, seja completamente erradicado. No entanto, o principal porta-voz do Exército, Daniel Hagari, disse que o Hamas é uma ideologia e não pode ser eliminado, em manifestação contrária à posição oficial do governo do premiê Binyamin Netanyahu.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.