Descrição de chapéu Bangladesh Ásia

Nobel da Paz é indicado para comandar governo interino em Bangladesh

Medida foi exigência de mobilização estudantil, que pede eleições em três meses; protestos deixaram 400 mortos

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São Paulo

O presidente de Bangladesh, Mohamed Shahabuddin, dissolveu nesta terça-feira (6) o Parlamento e indicou o Nobel da Paz Muhammad Yunus como líder de um governo interino até que novas eleições sejam realizadas.

A decisão se dá um dia depois de a primeira-ministra Sheikh Hasina renunciar e fugir do país em reação a uma onda de protestos cuja repressão deixou mais de 400 mortos.

Yunus, 84, é economista e foi agraciado com o prêmio Nobel em 2006 por ter criado um sistema de microcréditos para pobres. Ainda não se sabe por quanto tempo ele governará o país —as eleições não têm data marcada, embora o movimento estudantil, responsável por convocar os protestos que abalam a nação desde julho, peçam que elas sejam convocadas em até três meses.

Tanto a indicação de Yunus para o comando do país quanto a dissolução do Parlamento também foram exigências dos estudantes.

A imagem mostra uma cena caótica em uma área urbana, com várias pessoas reunidas em um espaço aberto, observando os danos. Ao fundo, há veículos danificados e fumaça no ar, indicando um possível incidente ou desastre. Árvores e vegetação cercam a área, e o ambiente parece estar em desordem, com papéis espalhados pelo chão.
População se reúne na capital de Bangladesh, Daca, para ver a delegacia de polícia de Jatrabari incendiada, enquanto manifestantes antigovernamentais ateiam fogo - Abdul Goni - 6.nov.24/AFP

Os militares tomaram o controle do governo do país de 171 milhões de habitantes na segunda-feira (5), depois que a primeira-ministra renunciou ao cargo.

Pelo menos 113 pessoas morreram em confrontos somente na segunda, o dia mais mortal desde o início das manifestações. Hasina, 76, fugiu para o exterior depois de governar o país de maioria muçulmana por 15 anos.

No total, porém, os atos deixaram pelo menos 413 mortos, segundo balanço mais recente da agência de notícias AFP baseado em informações divulgadas pela polícia e autoridades médicas.

Em comunicado, o principal sindicato da polícia pediu desculpas por ter atirado contra os estudantes. A organização afirma que os agentes foram obrigados a abrir fogo contra os jovens e que, depois, foram "apresentados como os vilões". Também anunciou uma greve para garantir a segurança dos agentes.

O comandante do Exército, general Waker-Uz-Zaman, deve se reunir com os líderes do movimento estudantil em breve. Na segunda-feira, mesmo dia em que havia anunciado a formação de um governo interino, ele prometeu reparar "todas as injustiças" e suspender o toque de recolher no país.

Foi então que Asif Mahmud, um dos principais líderes do grupo Students Against Discrimination (estudantes contra a discriminação), citou o prêmio Nobel como opção de governo interino. "Confiamos no doutor Yunus", escreveu no Facebook.

As manifestações começaram após a reintrodução de um polêmico sistema de cotas que reservava boa parte dos empregos públicos para famílias envolvidas na luta por independência de Bangladesh nos anos 1970.

Hasina ainda era acusada por grupos de direitos humanos de usar indevidamente as instituições do Estado para se consolidar no poder e acabar com a oposição, inclusive por meio de execuções extrajudiciais. Ela comandava Bangladesh desde 2009 e havia vencido suas quartas eleições consecutivas em janeiro, em eleições sem uma oposição real.

A rival política de Hasina, a ex-primeira-ministra e líder da oposição Khaleda Zia, 78, foi libertada nesta terça, depois de passar anos em prisão domiciliar, informou o partido do qual Zia faz parte, BNP (Partido Nacionalista de Bangladesh, em português). Zia havia sido condenada a 17 anos de cárcere por corrupção em 2018.

A soltura foi um pedido de Shahabuddin, que ordenou ainda a libertação de outras pessoas detidas durante os protestos que provocaram a queda da primeira-ministra. Milhões de pessoas lotaram as ruas de Daca, invadindo o Parlamento e incendiando estúdios de canais de televisão, na noite desta terça.

Alguns ainda derrubaram estátuas do pai de Hasina, Sheikh Mujibur Rahman, que liderou a luta pela independência contra o Paquistão em 1971. Centenas de casas, negócios e templos hindus foram vandalizados, preocupando a Índia. Hindus representam 8% da população de Bangladesh e historicamente apoiam o partido de Hasina, a Liga Awami.

Enquanto isso, a imprensa da Índia noticiou que Hasina pousou em uma base militar perto de Nova Déli. Mas uma autoridade de alto escalão do governo de Daca afirmou que ela estava apenas em uma escala, pois seu objetivo é viajar para Londres.

Não está claro se ela conseguirá concretizar seu intento. Afinal, o Reino Unido solicitou uma investigação na ONU (Organização das Nações Unidas) em relação aos "níveis inéditos violência" empregados em Bangladesh.

Com AFP e Reuters

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