Uma comilança dessas em dia de semana. Até é servida também no sábado, mas almoçar a feijoada do Rubaiyat em plena quarta-feira tem um não-sei-quê —de repente, os contornos da vidinha cotidiana se dissolvem, você se vê diante de um prato de festa.
A luz natural que vem dos janelões cruza o salão cheio de mesas de madeira escura e cadeiras de couro. Ao lado, as panelas estão fumegando sobre o balcão.
A feijoada é um prato tão afetivo para o brasileiro que não será estranho entreouvir alguém falando dos ingredientes na bancada de um jeito também muito nacional, o diminutivo: a orelhinha, o torresminho, o rabinho, a costelinha... E o feijão, claro, que é o anfitrião desse pessoal todo.
É uma comida que parece nos seduzir para os excessos, mas que perdura, sobrevive a modismos. Incrível que esse prato cruze tantos ambientes e classes sociais. Está ligado ao samba, aos botequins escondidos, às casas das avós. E, aqui no Rubaiyat, está apresentado com pompa diante dos faria-limers que vêm e vão.
Em um prato tão associado à brasilidade, é normal encontrar todo tipo de jeito de fazê-lo, cada um com sua particularidade. Aqui o destaque são esses ingredientes —boa parte deles vinda da fazenda da família fundadora do restaurante.
A casa serve ainda acompanhamentos menos comuns nesse tipo de prato, como a língua defumada, o bacon crocante e o aipim frito, entre outros. Visitantes ilustres e muitíssimo bem-vindos. Todos acompanhados da farofa com carne-seca desfiadinha, a crocância amanteigada que serve para dar contraste com aquele feijão denso.
Os forasteiros às vezes estranham que uma cidade possa comer algo do tipo no meio da semana. Como será possível que faria-limers saiam daqui para comprar e vender ações, que médicos ainda precisem acudir pessoas depois dessa refeição?
Não existe dilema nenhum nesse hábito. Não é um prato pelo qual se pode passar incólume, comer e fingir que não prestou atenção. A feijoada nos convida —na verdade, nos obriga— a desacelerar. E depois nos devolve ao dia a dia.
Rubaiyat
Av. Brig. Faria Lima, 2.954, Jardim Paulistano, região oeste, tel. (11) 3165-8888, @rubaiyatbrasil
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.