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Ana Maria Wilheim e Ivan Carlos Maglio: Pela preservação do Parque Anhembi

Lei municipal põe em risco futuro de um patrimônio de SP

Em primeiro plano, o Centro de Convenções do parque Anhembi, em São Paulo
Em primeiro plano, o Centro de Convenções do parque Anhembi, em São Paulo - Gabriel Cabral - 25.abr.18/Folhapress

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas, sancionou a lei municipal 16.886, em 4 de maio deste ano, que definiu índices urbanísticos que regulamentam o potencial construtivo para a privatização do terreno que contém as edificações do complexo do Parque Anhembi: Palácio de Convenções, Pavilhão de Exposições e o Sambódromo.

No lugar de preservar edificações emblemáticas na paisagem urbana e com imenso significado histórico, cultural e econômico, a atual administração colocara à venda esse patrimônio sem a garantia de preservação dessas edificações, à exceção do Sambódromo, projeto de Oscar Niemeyer (1907-2012).

Muito nos indigna ver que os desafios contábeis da administração pública coloquem em risco obras como essa, que foram marcantes para a arquitetura, engenharia, e para o setor de feiras e exposições idealizadas pelo empresário Caio de Alcântara Machado (1926-2003), tendo apoio do então prefeito Faria Lima (1909-1969).

O Complexo Anhembi (Convenções e Exposições) é projeto arquitetônico de Jorge Wilheim (1928-2014) e de Miguel Juliano (1928-2009), com paisagismo de Burle Marx (1909-1994), projeto de engenharia de Mario Franco (Convenções), cálculo da estrutura de Cedric Marsh (1924-2013), e um projeto de estruturas metálicas de alumínio de Fichet Schwartz Hautmont, com a execução da obra coordenada por Eduardo Moraes Dantas.

A construção do Centro de Exposições do Parque Anhembi representou um imenso desafio arquitetônico e um projeto inovador de engenharia: Em dezembro de 1969, uma estrutura metálica tubular de 70 mil metros quadrados (equivalente a cinco quarteirões) foi construída no chão e erguida simultaneamente por sistema de macaco e 25 guindastes, durante 10 horas de trabalhos ininterruptos, envolvendo 200 trabalhadores.

Também o Palácio das Convenções apresenta inovações em seu projeto de estrutura em forma poliédrica em casca. Cinquenta anos depois, este espaço de feiras e eventos corre o risco de desaparecer, devido à ausência de medidas e políticas públicas de proteção ao patrimônio arquitetônico da cidade, e pelo crescimento da especulação imobiliária na região em função das diretrizes da atual administração municipal, que as estimula, em detrimento da preservação de patrimônios públicos, considerados de grande relevância social, econômica e arquitetônica.

O Complexo Anhembi é vítima dessa política, institucionalizada por meio da Lei 16.766, de dezembro de 2017, e pela lei municipal 16.886, de 4 de Maio de 2018, aprovada pela Câmara Municipal e sancionada pela administração municipal.

A combinação dessas leis autoriza a alienação da participação societária detida pelo município de São Paulo na SP Turismo. Esta detém a propriedade e os direitos pelo terreno e edificações do Complexo Anhembi e define índices e parâmetros de parcelamento, uso e ocupação do solo a serem observados na elaboração de Projeto de Intervenção Urbana - PIU do Anhembi.

Tal projeto está em processo de formulação, e ambas não garantem a preservação desse patrimônio. Essas aprovações colocam sob grave risco as edificações do Complexo Anhembi, não protegidas pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo), que não considerou relevante o tombamento das edificações do Pavilhão de Exposições e do Palácio das Convenções, que representam parte da memória e da expressão cultural e econômica da cidade.

Defendemos a modernização da cidade com a preservação de seu patrimônio arquitetônico, histórico e cultural, e propomos a preservação dos referenciais de paisagem urbana, econômica, social e cultural. O Parque Anhembi precisa ser preservado no contexto dos desafios de evolução econômica e tecnológica da cidade. Para tanto, o Projeto de Intervenção Urbana – PIU e o edital de privatização do Anhembi, em elaboração, devem garantir a preservação das edificações do Parque Anhembi, de acordo com projeto original —evitando assim, seu desaparecimento.

Ainda há tempo de salvar o Parque Anhembi.

Ana Maria Wilheim

Socióloga e gestora do projeto Legado Jorge Wilheim

Ivan Carlos Maglio

Engenheiro civil, mestre e doutor em meio ambiente e consultor em planejamento urbano e ambiental

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