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Sinais do descaso

Dados a respeito das falhas de semáforos em São Paulo revelam-se vergonhosos

Semáforo quebrado no cruzamento das alamedas Eduardo Prado e Barão de Limeira, em Campos Elíseos, no centro paulistano
Semáforo quebrado no cruzamento das alamedas Eduardo Prado e Barão de Limeira, em Campos Elíseos, no centro paulistano - Eduardo Anizelli/ Folhapress

Não é, certamente, o maior problema presente no dia a dia dos paulistanos. Poucos, entretanto, seriam capazes de transmitir sensação tão clara de descuido, abandono e ineficiência quanto as frequentes panes nos semáforos da cidade.

É como se mesmo num serviço simples, mas também simbolicamente constitutivo da civilização urbana moderna, o poder público deixasse os cidadãos entregues à própria sorte, sem explicação.

Ao menos esta Folha pôde obter, graças à Lei de Acesso à Informação, os dados atualizados a respeito das falhas em São Paulo.

Revelam-se vergonhosos. De agosto a janeiro, houve 12,8 mil problemas em semáforos da cidade, onde se contam 6.300 esquinas com tais equipamentos.

Em média, as panes mais comuns —pela ordem, aparelho apagado, lâmpada queimada e amarelo piscante— levam, respectivamente, 5, 22 e 4 horas para serem reparados. 

Houve 111 casos em que os sinais demoraram mais de 24 horas para voltar a funcionar; deu-se que uma rua central na cidade, a Brigadeiro Tobias, ficou cinco dias sem semáforo. Num cruzamento central, o da avenida Paulista com a rua da Consolação, registraram-se 25 falhas nesse período.

Cabe recordar que, em agosto do ano passado, a prefeitura assinou contratos de manutenção com empresas privadas, depois de um impasse que se prolongava desde dezembro de 2016.

Foi um momento de propaganda para o então prefeito João Doria (PSDB), que prometia consertos em no máximo duas horas, graças a equipes de motociclistas especialmente preparadas para acorrer aos locais em pane.

Não era bem assim —esse prazo valia tão somente para a chegada ao semáforo quebrado. Quanto a consertá-lo, isso dependeria da magnitude do problema. Em média, é de 11,6 horas o tempo exigido para cada reparo.

O então presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) anunciava os novos contratos com terminologia escolhida: falava em “fazer rapidamente uma atuação” nos equipamentos e num “tempo médio de duas horas para a manutenção” deles.

Vê-se agora a sutileza. Manter um semáforo significa ir aonde ele está; e o semáforo pode, afinal, ser mantido quebrado. Do mesmo modo, manter uma promessa não quer dizer que se vá cumpri-la.

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