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Lucas Rodrigues Azambuja

A direita veio para ficar no panorama político do Brasil? SIM

Da onda à organização política

O candidato Jair Bolsonaro, em entrevista coletiva no dia 11 - Mauro Pimentel - 11.out.18/AFP

Quando se fala em "onda de direita" ou "onda conservadora", está se colocando em um mesmo rótulo uma diversidade de grupos que não são ideologicamente idênticos. Porém, é essa diversidade a razão principal para afirmar que esta "onda" não é passageira, mas expressão de segmentos da população que até então não estavam sendo representados politicamente.

É verdade que uma parte da direita é expressão de um sentimento conjuntural: o antipetismo, cujo avanço se deu em razão do envolvimento do Partido dos Trabalhadores nos escândalos de corrupção descobertos pela Lava Jato e também pela recessão econômica produzida no governo Dilma.

Portanto, talvez essa seja a parte da onda de direita que é passageira. Porém, essa conjuntura levou à expressão e à organização política de outros grupos.

O primeiro desses grupos é o movimento liberal, que começa a crescer durante as manifestações favoráveis ao impeachment de Dilma Rousseff por meio de lideranças como o MBL e se organizam especialmente no partido Novo.

O segundo grupo são os conservadores, um conjunto difuso de pessoas que começa a ser formado pela influência e popularidade do filósofo Olavo de Carvalho e tem se expressado politicamente na candidatura de Jair Bolsonaro e também em movimentos pró-monarquistas.

O terceiro e quarto grupo possuíam bancadas parlamentares antes da "onda conservadora", mas recentemente estão se posicionando mais à direita: o agronegócio e os evangélicos, junto com católicos conservadores.

A bancada do agronegócio tem como principal bandeira a oposição ao MST e ao ativismo ambientalista. Os evangélicos e católicos conservadores se opõem às bandeiras da bancada LGBT e direitos humanos, especialmente na questão da legalização do aborto e das drogas, assim como em temas ligados à educação, cabendo destaque ao movimento Escola sem Partido.

Por último, um grupo ligado às Forças Armadas e às Polícias Militares que se uniu com movimentos sociais em torno do fim do desarmamento civil e em favor de políticas de segurança pública mais duras. Esse grupo é tão numeroso quanto aquele das bandeiras de "direitos humanos", que tradicionalmente se identifica com a esquerda.

Nestas eleições, esses grupos elegeram uma quantidade expressiva de senadores --por exemplo, o Major Olimpio (PSL), que tirou a vaga de Eduardo Suplicy (PT)-- e deputados estaduais e federais; inclusive, as duas maiores votações da história desses dois cargos foram de dois candidatos que integram a onda de direita: Janaina Paschoal e Eduardo Bolsonaro.

Esses grupos não expressam apenas um sentimento difuso de insatisfação com os partidos de esquerda no contexto do antipetismo; eles expressam valores, interesses e ideologias existentes dentro da sociedade brasileira que não estavam sendo representadas politicamente.

Não é, portanto, motivado por uma reação momentânea. Por isso, é possível prever que esses grupos, ao elegerem parlamentares em todos os níveis da República e com a chance real de vitória de Bolsonaro, irão crescer em organização política e se tornarem parte permanente do espectro político brasileiro, que até então tem sido formado apenas por partidos e candidatos entre o centro até a extrema esquerda.

Também por possuir organizações e origens em movimentos da sociedade civil, a onda de direita não é somente um fenômeno eleitoral.

Lucas Azambuja

Doutor em sociologia pela USP e professor titular no Ibmec-MG

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