Um incidente naval no último domingo (25), de circunstâncias ainda não esclarecidas, trouxe outra vez à baila o conflito entre Ucrânia e Rússia, em curso desde 2014 mas, por variadas razões, amplamente negligenciado pela comunidade internacional.
Forças russas interceptaram e prenderam a tripulação de duas pequenas embarcações de guerra e um rebocador da frota vizinha no estreito de Kerch, que separa os mares Negro e de Azov. Moscou alega invasão de suas águas territoriais; Kiev, por sua vez, diz se tratar de uma área de navegação compartilhada por tratado bilateral.
Quaisquer que sejam os argumentos dos dois lados, é fato que a escaramuça representa mais uma demonstração de força de Vladimir Putin contra os ucranianos. A tensão regional teve seu zênite há quatro anos, quando da anexação russa da Crimeia —após a península realizar referendo que decidiu pela independência.
Uma das principais repúblicas da antiga União Soviética, a Ucrânia, por sua posição geográfica, tem histórico pêndulo entre a Europa ocidental e a Rússia. No fim de 2013, um presidente pró-Moscou suspendeu tratativas com a União Europeia, e violentos protestos nas regiões mais a oeste do país acabaram por derrubá-lo meses depois.
Preocupado em preservar sua esfera de influência, Putin não tardou a reagir, ainda que por procuração. Apoiou o separatismo na Crimeia e os grupos armados que buscam a separação das províncias de Donetsk e Lugansk, a leste, ambas de forte vínculo com os russos.
O conflito dos rebeldes pró-Moscou com as forças de Kiev persiste nessa região há quase cinco anos, com mais de 10 mil mortos. A ação desestabilizadora do Kremlin, embora evidente, resultou em sanções financeiras de pouco efeito por parte da UE e dos Estados Unidos.
Explica-se a tibieza europeia, em boa medida, pela dependência energética da Rússia —origem de cerca de 40% do volume importado de gás natural, essencial para a calefação no inverno. Quanto à posição americana, Putin passou a ter em Donald Trump mais um admirador que um crítico.
Assim, surpreende que o republicano, em resposta ao episódio de domingo, tenha suspendido reunião com o líder russo, prevista na cúpula do G20. Esperam-se atitudes de outras potências para pressionar Moscou a buscar um acordo com a Ucrânia, desde que se comprometa a respeitar sua soberania.
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