Descrição de chapéu

Parque Minhocão

Transformação não pode vir desacompanhada de medidas que ajudem a revitalizar a área

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O Minhocão, fechado para trânsito de carro, é utilizado para lazer - Fábio H. Mendes/Folhapress

Há quase 50 anos São Paulo convive com a excrescência que é o elevado João Goulart, popularmente conhecido como Minhocão. A estrutura de 3,4 quilômetros de extensão, que liga o centro à zona oeste, constitui um dos mais eloquentes exemplos da insensibilidade urbanística que orientou grande parte do crescimento da capital.

Inaugurada em 1971, a obra impôs a uma tradicional área da cidade imensurável desvalorização econômica, arquitetônica e humana. Edifícios passaram a sofrer os efeitos de uma via expressa produzindo fuligem e decibéis a poucos metros de suas janelas.

O debate sobre a desativação do Minhocão, não por acaso, remonta à sua inauguração. Os defensores do viaduto sempre argumentaram que ele cumpria papel importante em um trânsito constantemente à beira do colapso. 

Estudos produzidos pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), entretanto, apontam que, com algumas adequações viárias, o encerramento do uso do elevado não traria impactos significativos ao tráfego da região.

Depois de décadas de discussão, a questão teve enfim avanço concreto em 2014, com o novo plano diretor. Determinou-se no documento que o Minhocão seria inativado até 2029, deixando em aberto o destino a lhe ser dado.

Na semana passada, adveio o passo seguinte. O prefeito Bruno Covas (PSDB) anunciou que a via será transformada em parque, com áreas verdes e equipamentos de lazer, além das necessárias obras de segurança e acessibilidade.

A expectativa é que o trecho inicial, de 900 metros, seja entregue até o fim de 2020, ao custo de R$ 38 milhões, oriundos de um fundo municipal voltado a ações urbanísticas.

Trata-se de iniciativa que merece apoio, embora condicionado. É notória a carência de áreas públicas de lazer em São Paulo —a metrópole conta com meros 3 m² delas por pessoa, ante 18 m² em Londres e 13,5 m² em Curitiba.

Pesa a favor da implementação do parque, ademais, o fato de o espaço já ter sido acolhido pelos paulistanos. Há alguns anos o Minhocão tem sido aberto à população aos fins de semana, com sucesso.

A transformação prometida, no entanto, não pode vir desacompanhada de medidas que ajudem a revitalizar a área, que concentra moradores de rua, usuários de drogas e um comércio degradado.

Não se pode desprezar ainda o previsível aumento dos aluguéis da região e consequente expulsão das camadas mais pobres que ali residem. Existem políticas públicas capazes de mitigar tal efeito.

Se atuar com diligência, a prefeitura estará contribuindo para uma cidade menos árida e hostil às pessoas que nela vivem.

editoriais@grupofolha.com.br

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