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Cultura chimpanzé

É preocupante que condutas identificadas como parte da cultura da espécie encontrem-se ameaçadas pela presença humana

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chimpanzé sentado em cima de uma pedra com os braços em torno do corpo
Jovem chimpanzé resgatado é acolhido no Santuário para Chimpanzés Tacugama, em Freetown, Serra Leoa - Cooper Inveen - 27.fev.2019/Reuters

Desde as descobertas pioneiras da primatóloga Jane Goodall, nos anos 1960, a outrora nítida separação entre seres humanos e chimpanzés vem se esfumaçando.

Sabe-se hoje, por exemplo, que esses primatas superiores são dotados de autoconsciência, contam com traços de personalidade que se mantêm estáveis durante a vida, constroem alianças intragrupo a fim de obter vantagens, guerreiam entre si. E, algo que talvez surpreenda muitos, possuem cultura.

Os símios desenvolveram, ao longo do tempo, uma série de comportamentos específicos, que variam de acordo com a região, não derivam de pressões ambientais e são transmitidos, geração após geração, dentro dessas comunidades —o que sem dúvida se encaixa no que se compreende por cultura.

Dentre as diversas condutas já identificadas pelos cientistas encontram-se a confecção de ferramentas, o uso de gravetos para abrir cupinzeiros, a utilização de “esponjas” feitas de musgo para beber água e até brincadeiras com folhas e galhos.

Assim, é preocupante que a sobrevivência de tradições como essas encontre-se ameaçada pela presença humana —conforme mostrou um artigo publicado na semana passada na prestigiosa revista científica Science.

No estudo, os pesquisadores buscaram testar uma hipótese formulada cerca de duas décadas atrás, a saber, que os impactos causados por humanos, como a destruição do habitat e a caça, prejudicam a aprendizagem social e os processos necessários para a transmissão comportamental e cultural entre os primatas superiores.

A partir da análise de 144 comunidades chimpanzés de 46 localidades da África, a equipe internacional de pesquisadores concluiu que em áreas com alto impacto da presença humana, a probabilidade de que comportamentos como os listados fossem registrados era nada menos que 88% mais baixa do que em locais com pouco impacto.

Uma das explicações para o fenômeno é que a observada redução do número de membros das comunidades limita os contatos sociais e, portanto, as oportunidades para que as habilidades dos animais sejam compartilhadas.

Diante do risco considerável de destruição desse patrimônio primata, os autores do estudo propugnam a criação de áreas voltadas especificamente para a preservação da diversidade cultural e comportamental dos chimpanzés.

Com adaptações, a iniciativa poderia ser estendida a outras espécies, como orangotangos, que também compartilham esses traços.

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