Descrição de chapéu

Fogueira das crendices

Vélez e Araújo perdem tempo administrando vaidade, superstições e despreparo

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O ministro da educação, Eduardo Vélez - Pedro Ladeira/Folhapress

O Brasil destina mais de 5% de sua renda ao sistema educacional público —patamar compatível com padrões internacionais— sem conseguir ensinar o básico aos jovens que farão sua economia funcionar nas próximas décadas.

Na prova internacional Pisa de 2015, nossos estudantes classificaram-se em posições decepcionantes em matemática (63ª entre 70 países), leitura (58ª) e ciências (65ª). 

Diante desse panorama, o que acontece no Ministério da Educação transcorridos mais de dois meses do governo Jair Messias Bolsonaro (PSL)? Uma sucessão de maus passos e intrigas, que nada têm a ver a produtividade nacional.

Eis a decorrência previsível de tratar a pasta como quintal para estripulias dos setores mais caricatos na coalizão de forças conservadoras que elegeu o presidente. O mesmo se observa no Itamaraty.

No MEC, fala-se numa misteriosa Lava Jato da Educação, a qual só logrou produzir oscilações na Bolsa dos títulos de conglomerados de ensino. Nos bastidores, as chamadas alas pragmática e ideológica se engalfinham.

Uma carta tresloucada do ministro Eduardo Vélez, incitando diretores a impor execução diária do hino nacional e requisitando vídeos da cantoria, teve como resultado prático uma sequência espetacular de recuos do titular. Foi, também, o estopim para um confronto aberto no ministério.

Vélez, reagindo a invectivas do escritor Olavo de Carvalho desde a Virgínia (EUA), passou a demitir ex-alunos do ideólogo que o indicara. Tal desenvoltura teria irritado o presidente, que exigiu a exoneração de um militar instalado no gabinete, ao que parece, para vigiar e coibir excessos.

Nas Relações Exteriores, o campo se mostra igualmente conflagrado. Ernesto Araújo se inclina a um  alinhamento com Washington, potencialmente prejudicial ao volumoso comércio com a China.

Ironicamente, a potência asiática se prepara para aumentar as importações de soja dos EUA, em detrimento de produtores brasileiros.

Com a vizinha Venezuela à beira de um conflito civil, Araújo voltou sua atenção, na semana passada, para textos críticos à sua gestão publicados por Paulo Roberto de Almeida, diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri). Demitiu-o.

Ato contínuo, constrangeu-se a adiar palestra no Ipri do próprio sogro, o embaixador aposentado Luiz Felipe Seixas Corrêa.

Vélez e Araújo perdem tempo precioso administrando uma mistura de vaidade, superstições e despreparo. A responsabilidade maior é do presidente, que enxerga o país pelas lentes enviesadas da internet.

editoriais@grupofolha.com.br ​ ​ ​ ​ ​ 

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