Descrição de chapéu

Abaixar o fogo

Bravatas de Bolsonaro só agravam a crise gerada pela elevação do desmatamento

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Incêndio na floresta amazônica, próximo a Porto Velho (RO) - Ueslei Marcelino/Reuters

Com a crise do desmatamento na Amazônia a ultrapassar as fronteiras do país, a política externa do governo Jair Bolsonaro (PSL) passará por seu primeiro grande teste. Até aqui, o presidente apenas acrescentou dificuldades desnecessárias a um problema real.

A sucessão de atos e declarações irresponsáveis do mandatário proporcionou material farto para que o Brasil seja mais uma vez exposto como vilão do ambiente —antes mesmo de haver dados e diagnósticos mais precisos a respeito da ampliação de queimadas e outras modalidades de devastação.

Bolsonaro demitiu o diretor do órgão que apontou números desfavoráveis; sem nenhuma base, apontou ONGs como suspeitas de piromania florestal; por fim, distribuiu críticas a países europeus que cortaram verbas para o país e questionaram sua política ambiental.

Esta, de fato, dá motivos palpáveis para o alarme. O governo esvazia órgãos de controle e impreca contra práticas que reduziram o rombo amazônico de 25 mil km² desmatados em 2004 para 7,9 mil km² no ano passado.

O presidente vem de um meio, o militar, que preconiza a ocupação econômica da Amazônia como uma forma de evitar a ingerência estrangeira. Se pontualmente pode haver preocupações legítimas, o tom geral da teoria é paranoico.

Em tal cenário, o país se torna alvo não apenas de críticas bem fundamentadas —e elas são muitas— mas também de manobras oportunistas que se valem de um tanto de histeria e desinformação.

O presidente francês, Emmanuel Macron, por exemplo, não desperdiçou a chance de usar as queimadas amazônicas na tentativa de ocupar o vácuo de lideranças na Europa —com direito a seu quinhão de tolices, como chamar a floresta de pulmão do mundo.

O fez trazendo a discussão para o fórum do G7, que reúne neste sábado (24) os líderes das maiores economias globais. É incerto, porém, se sua intenção terá guarida dos EUA de Donald Trump, dadas as afinidades entre o republicano e o presidente brasileiro.

O estrago de imagem está feito, de todo modo, e pode ter repercussões comerciais importantes. Franceses e irlandeses já ameaçam o acordo Mercosul-União Europeia, que precisa ser aprovado por todos os países envolvidos.

Há um extenso rol de providências a serem tomadas para estancar a crise, e o ajuste de tom de Bolsonaro deveria ser a mais imediata delas. Ele adotou maior sobriedade, felizmente, em seu pronunciamento em cadeia de rádio e TV nesta sexta-feira (23), trocando o confronto pela defesa da preservação.

Restará, claro, adotar as medidas necessárias para ao menos indicar a intenção de reverter os números negativos. Bravatas nacionalistas não ganharão o jogo desta vez.

editoriais@grupofolha.com.br

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