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Desafio à ditadura

Manifestações em Hong Kong ampliam pauta e criam dilema para o governo chinês

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Manifestante enfrenta a polícia durante protesto em Hong Kong - Thomas Peter/Reuters

Os grandes protestos de rua em Hong Kong começaram por uma razão muito precisa —demandava-se a reversão de uma lei que autorizava a deportação de cidadãos do território para a China continental. De junho para cá, porém, as manifestações evoluíram para uma pauta mais abstrata, em que os participantes exigem mais democracia.

Trata-se de problema grave para a ditadura de Pequim, que não tolera contestações à sua autoridade. Lida-se com uma região administrativa especial, onde as pessoas gozam de mais liberdades devido ao acordo firmado com o Reino Unido quando da devolução da ex-colônia britânica, em 1997.

A China se comprometeu a respeitar a autonomia do território por pelo menos 50 anos (até 2047), num arranjo que ficou conhecido como “um país, dois sistemas”.

Embora tal acordo venha sendo formalmente cumprido, cidadãos de Hong Kong sentem que o governo central trabalha para minar pouco a pouco seus direitos e garantias. A tentativa de aprovar a lei de deportação seria um exemplo.

O impasse entre manifestantes e autoridades testa os limites do sistema chinês. Teóricos do liberalismo sempre afirmaram que o processo de desenvolvimento econômico leva à democratização.
Isso ocorreria por duas razões principais. Em primeiro lugar, o surgimento de uma grande classe média, que se torna cada vez mais exigente, criaria uma demanda irresistível por abertura política.

O outro motivo é ainda mais teórico. No longo prazo, a manutenção do crescimento econômico depende de um fluxo constante de inovações e aumentos de produtividade que seria impossível assegurar num regime em que pessoas, em especial os cientistas, não podem trocar informações livremente.

Desenvolvimento duradouro e ditadura seriam, portanto, essencialmente incompatíveis.

A China, ao menos até aqui, desmente essas previsões. Livrou centenas de milhões de pessoas da pobreza e se converte em potência científica sob regime autoritário. A pergunta que fica é se os protestos em Hong Kong não são o início de um processo de abertura política.

Pequim, obviamente, deseja sufocar o movimento. Evita, contudo, recorrer à violência nua e crua, como fez nos protestos da praça da Paz Celestial, quando despachou tanques para enfrentar estudantes.

A China de 2019 não é a de 1989. O gigante tem hoje interesses comerciais e financeiros que se veriam prejudicados por uma eventual onda de repressão, e os manifestantes sabem disso —num impasse potencialmente explosivo.

editoriais@grupofolha.com.br

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