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Sangue e petróleo

Guerra civil na Líbia volta a preocupar após fracasso de conferência de paz

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Soldados na Líbia se preparam para operação em Trípoli - Hamza Turkia/Xinhua

A guerra civil de intensidade variável que consome a Líbia virou uma nota de rodapé do noticiário internacional nos últimos anos. Nesses tempos intranquilos, há conflitos para todos os gostos no mundo.

A barbárie que destroça a Síria desde 2011, amplificada pela emergência do Estado Islâmico e a interferência de países ocidentais e árabes, Rússia, Turquia, Irã e Israel, sempre teve apelo inquestionável.

Assim, o deserto líbio e a décima maior reserva de petróleo do mundo abaixo dele permaneceram sob relativo baixo escrutínio. Até aqui.

O fracasso da Rússia e da Turquia em atrair o poderoso líder rebelde do país, marechal Khalifa Haftar, ao renovado processo de paz durante conferência no domingo (16) em Berlim, traz perspectivas sombrias para a guerra.
 

Haftar domina boa parte do país, e parece não estar disposto a abrir mão de uma vitória militar sobre o enfraquecido governo reconhecido pelas Nações Unidas, centrado na capital, Trípoli.

O militar até foi a Berlim, mas esnobou a plenária com a alemã Angela Merkel, o russo Vladimir Putin, o turco Recep Tayyip Erdogan, o francês Emmanuel Macron e representantes de outras potências. 

O ônus maior ficou para Putin.

Maior apoiador de Haftar, o russo havia trabalhado por um acordo prévio. Pode no máximo acusar o colega turco de ter dificultado as coisas, por ter renovado a promessa de enviar tropas para apoiar o governo oficial de Fayez al-Sarraj.

O Kremlin está de olho em expandir sua influência na região e no petróleo líbio, que antes da queda de Muammar Gaddafi em 2011 era o terceiro mais importado pelos europeus. Hoje, é o oitavo.

Já Ancara vê oportunidade de afirmar-se no leste do Mediterrâneo e de retomar projetos energéticos parados desde a era Gaddafi.

Quem não tinha muito a dizer e assim permaneceu foi a Europa, que recebe quase toda a imigração ilegal a partir da costa da Líbia.

Após apoiar com bombas a deposição do ditador, o Ocidente lavou as mãos. Agora, reluta em sujá-las de sangue e petróleo, algo que não  incomoda tanto russos e turcos.

As atenções se voltam a Haftar, que bloqueou a produção petrolífera do país e se mostra um aliado inconfiável da Rússia e de outros países, como França e Egito.

Com a perspectiva da intervenção militar de Ancara, em um país que já conta com mercenários russos e sudaneses, parece mais distante uma acomodação pacífica.

editoriais@grupofolha.com.br

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