Uma das consequências mais cruéis da disseminação galopante do novo coronavírus é o escasseamento de materiais necessários à proteção dos profissionais que atuam contra a Covid-19 e de equipamentos para o cuidado dos pacientes.
Pululam em todo o país alertas sobre a falta iminente de máscaras, luvas e outros insumos básicos para médicos e enfermeiros, assim como de respiradores, aparelhos que desempenham papel fundamental nas manifestações mais graves da enfermidade.
Trata-se de situação inadmissível, que exige atuação urgente por parte do poder público.
As tentativas de sanar o problema por meio da importação desses produtos, sobretudo da China, têm-se mostrado até aqui pouco exitosas. A alta demanda de outras nações sobrecarregou a potência asiática e instaurou uma competição brutal nesse terreno.
Na quarta-feira (1º), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que parte das compras de equipamentos de proteção pretendidos não poderá ser feita após os EUA terem adquirido grande volume de produtos chineses.
O mesmo se deu com uma encomenda de 600 respiradores realizada por estados do Nordeste, que acabou retida no aeroporto de Miami e cujo contrato foi cancelado pela empresa fornecedora sem maiores explicações.
Sem abdicar da via externa, e considerando que o pico da doença ainda está por vir, o Brasil se vê diante do imperativo de buscar opções para elevar a fabricação nacional desses materiais e aparelhos.
Tal esforço, para ser mais bem-sucedido, deveria contar com uma instância responsável por organizar a produção, identificar os principais gargalos nos estados e distribuir os equipamentos de acordo com as necessidades.
O Brasil dispõe de universidades qualificadas para colaborar no enfrentamento à epidemia, como dá mostra o protótipo de respiradores de baixo custo desenvolvido por professores da USP e da UFRJ. O desafio aqui é prover financiamento célere aos grupos de pesquisa e estabelecer vínculos com a indústria para a produção maciça.
Nos Estados Unidos, Donald Trump invocou uma lei dos tempos da Guerra da Coreia para obrigar montadoras de automóveis a fabricarem respiradores. Não necessariamente algo semelhante precisará ser feito aqui —mas a analogia com um esforço de guerra de fato se aplica nesse caso.
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