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Corrida do ouro

Pandemia derruba juros, aumenta déficit público e reaviva fascínio pelo metal

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Barras de ouro - Denis Bailbousa/Reuters

A relíquia bárbara, no dizer de um dos maiores economistas da história, John Maynard Keynes, teve grande papel na história. Sempre visto como garantia de segurança e proteção de última instância contra crises econômicas e políticas, o ouro volta ao centro das atenções.

Na semana passada a cotação do metal se aproximou do recorde de US$ 2.000 por onça (31,1 gramas). A alta chega a cerca de 30% no ano e ganhou ímpeto nas últimas semanas com a recém-inaugurada tendência de desvalorização do dólar.

A tese de fundo é que a gigantesca expansão do déficit público nas principais economias, resultante da pandemia, cedo ou tarde alimentará o risco de inflação. O ouro seria garantia contra perdas que atingiriam também o dólar, a divisa dominante do sistema global.

Não é a primeira vez. Outro episódio marcante de valorização do metal se deu na década de 1970, quando os Estados Unidos abandonaram o compromisso de converter dólares em ouro, regra que balizava a economia mundial no pós-guerra. Desde então perdeu-se a referência de lastro no metal.

As políticas inflacionárias que se seguiram fizeram disparar a cotação do ouro (multiplicada por 15 entre 1970 e 1980), que só veio a recuar na década seguinte —quando o banco central americano resolveu finalmente debelar a alta de preços com juros altos.

Agora, a recessão que acompanha a crise sanitária leva os juros mundiais a zero (e negativos quando ajustados pela inflação). Os que temem uma crise econômica sistêmica, eventos geopolíticos ou guerras também são adeptos do ouro.

O cenário não é tão óbvio, contudo. Os ganhos recentes são palpáveis, mas há muitos outros fatores em jogo. O aumento da dívida pública não ocorre no vácuo, mas acompanhado de postura cautelosa do setor privado, que corta gastos e investimentos.

O excesso de poupança na economia mundial e a concentração de renda precedem a pandemia e tem efeitos deflacionários que, por ora, mostram-se dominantes. Não apenas o ouro se valoriza, mas ativos financeiros em geral.

Embora menos elástica que a do papel-moeda, a oferta do metal não é fixa —e pode ser expandida. O ouro desempenha funções na economia real, e o aumento dos preços incentiva a extração.

De todo modo, está em evidência mais uma vez o simbolismo milenar do ouro, que continua a fascinar o mundo moderno.

editoriais@grupofolha.com.br

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