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O problema do MEC

Declarações de Milton Ribeiro revelam mais um ministro despreparado para desafios da educação

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O ministro da Educação, Milton Ribeiro, durante entrevista em Brasília. - Pedro Ladeira/Folhapress

Há algo de perturbador quando um ministro da Educação, a pretexto de defender a profissão docente, a qualifica com estas palavras: “Hoje, ser um professor é ter quase que uma declaração de que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa”.

A frase ofensiva de Milton Ribeiro, atual titular do ministério, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, poderia ser só um deslize. O conjunto de suas respostas, entretanto, mostra que o presidente Jair Bolsonaro escolheu outro despreparado para a pasta estratégica —o quarto em série desastrosa.

Ribeiro exime-se de responsabilidade e se limita a pregar ideias fixas preconceituosas do presidente. Repete assim o padrão aloprado de Ricardo Vélez, Abraham Weintraub e Carlos Decotelli, aquele que, exposto como fraudador da biografia, não chegou a tomar posse.

A declaração mais ultrajante foi sobre o impacto da pandemia no ensino e o aumento da desigualdade entre alunos pobres e ricos. Disse o ministro: “Esse não é um problema do MEC, é um problema do Brasil”.

Os percalços da educação brasileira são muitos e antecedem a Covid-19, mas têm de ser resolvidos por todos sob coordenação e liderança do governo federal. Vale dizer, do MEC, que até agora nada apresentou de substancial para corrigir as deficiências, velhas ou novas.

Ribeiro escuda-se em variante da desculpa andrajosa fabricada por Bolsonaro para justificar sua inação diante da pandemia, de que as medidas competem a governadores e prefeitos. “Essa é uma responsabilidade de estados e municípios, que poderiam verificar e ter as iniciativas para tentar minimizar esse tipo de problema”, esquivou-se Ribeiro ao falar da falta de acesso de muitos alunos à internet.

Assim se omite o ministro de um governo que, em agosto de 2019, anunciou pregão para compra de 1,3 milhão de computadores para a rede pública de ensino, ao custo de R$ 3 bilhões. Apontadas suspeitas de fraude no edital, a chamada acabou suspensa —sem que as suspeitas tivessem esclarecimento.

Sobre a questão sanitária em si, Ribeiro exibiu mais incoerência. Depois de afirmar que a jurisdição sobre escolas cabe a estados e municípios, anunciou que prepara um protocolo de biossegurança para escolas básicas retomarem aulas.

De resto, o ministro, que é pastor presbiteriano, recitou o credo obscurantista de Bolsonaro, discorrendo sobre a homossexualidade como produto de famílias desajustadas, os valores marxistas de Paulo Freire e o golpe de 1964.

Em meio à pior emergência sanitária da história do país, com efeitos desastrosos na educação, o presidente enxerga apenas moinhos de vento ideológico para combater. Encontrou agora mais um escudeiro à altura de sua pequenez.

editoriais@grupofolha.com.br

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