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Oásis na metrópole

Cumpre preservar o Jardim Alfomares, bastião de mata atlântica na selva de SP

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Vista aérea do Jardim Alfomares em São Paulo - Eduardo Knapp/Folhapress

Basta contemplar imagens aéreas do Jardim Alfomares, encravado num bairro residencial da zona sul de São Paulo, para se dar conta do valor paisagístico desse remanescente de mata atlântica. Toda e qualquer autoridade urbana esclarecida no mundo lutaria com afinco para preservar o parque.

São 63 mil metros quadrados de verde rodeados por denso casario. Apesar de ecologicamente diminuto, o fragmento de vegetação natural se mantém como refúgio de mais de uma centena de aves e até uma espécie de palmeira ameaçada (Euterpe edulis) pela extração desenfreada de palmito-juçara.

Trata-se de patrimônio histórico, se mais não fosse por guardar testemunho da exuberante floresta tropical que já cobriu os domínios da metrópole e quase toda a faixa litorânea do país —hoje o bioma brasileiro mais destruído.

Segundo o Atlas da Mata Atlântica, apenas 12,4% de sua extensão original resistiram a cinco séculos de devastação no Brasil.

O Jardim Alfomares constituía, ainda, um bem arquitetônico significativo, que sucumbiu à dinâmica imobiliária. Havia na chácara casa projetada por Oswaldo Bratke e adornada com jardins de Burle Marx, conjunto demolido em 2002.

O enclave verde foi vendido por uma herdeira do empresário Alfonso Martín Escudero, de cujo nome se formou o acrônimo que denomina o jardim. No terreno se construiriam casas de alto padrão, com doação de um terço da área de vegetação para o município.

Movimentos de moradores da região defendem há duas décadas a preservação. O Ministério Público também questionou o parcelamento do terreno em lotes e a ausência de estudos de impacto ambiental.

Houve decisões judiciais favoráveis à incorporadora, e frustrou-se a tentativa de obter tombamento pelo Condephaat, órgão estadual. Entra agora na contenda o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental (Conpresp).

Por unanimidade, os conselheiros decidiram abrir um processo de tombamento em atenção a “valores históricos-culturais que interligam os aspectos ambientais, a qualidade de vida da população nesse local, com reflexos para a cidade como um todo”. Paralisam-se, por ora, as intervenções no imóvel.

Espera-se do Conpresp o reconhecimento do valor inestimável da fortaleza natural que resiste, contra todas as probabilidades, à marcha batida do concreto.

editoriais@grupofolha.com.br

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