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Miguel De Almeida e Humberto Casagrande

Oportunidades à mão

Para gerar empregos, precisamos investir na formação de profissionais de nível médio

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Miguel de Almeida

Escritor e diretor dos documentários 'Não Estávamos Ali para Fazer Amigos' e 'Tunga, o Esquecimento das Paixões', é autor de 'Primavera nos Dentes' (ed. Três Estrelas)

Humberto Casagrande

Engenheiro, é presidente do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola)

O anúncio de fechamento das fábricas da Ford no Brasil traz à tona a mais importante agenda para o Brasil depois da vacina contra a Covid-19, que é o tema do emprego.

De imediato vem à mente uma pergunta: se ocorreu em Detroit, por que não no Brasil? Entre as justificativas e alegações, ressaltam-se os elevados impostos brasileiros e, de outro, os altos subsídios proporcionados à indústria automobilística.

Entretanto, devemos adicionar a isso a mais incrível mudança de hábitos de consumo e produção ocorrida desde a Revolução Industrial, no século 19. Na ponta do consumo, chegou “a mobilidade sem a propriedade”, onde ter um carro não é mais importante, principalmente na camada mais jovem da população. Já na ponta da produção, as fábricas brasileiras ficaram obsoletas e custosas, não justificando mais sua manutenção.

Por fim o ambiente hostil a negócios no Brasil, sua inadequada política externa e temas ligados ao meio ambiente tornam o país pouco atraente.

Para isso, a resposta é multidisciplinar e complexa. Mas aquele que está perdendo seu trabalho, e seu filho que não está arrumando o primeiro emprego, não quer saber se a causa é simples ou complexa, O que importa é que as estatísticas de desemprego não param de crescer.

Não se pode brigar com os fatos: vivemos uma mudança de paradigma de produção econômica, que necessita respostas à altura por parte do governo, dos empresários e da sociedade. Mas, infelizmente, não é ao que assistimos neste momento.

Vamos às contradições. O Porto Digital de Recife possui cerca de 1.500 vagas para postos dentro da economia digital. Vagas que não conseguem ser preenchidas por absoluta falta de mão de obra especializada. Não estamos falando só de engenheiros, mas de profissões técnicas de nível médio.

Na formação desses profissionais é importante prestigiar programas como o Jovem Aprendiz para que sejam eliminados os "gaps" na formação familiar e escolar e, assim, possam ingressar em escolas com capacidade de oferecer cursos adequados. Sem isso eles não estarão prontos e vão frustrar qualquer tentativa de formação de mão de obra especializada em massa.

Há um quadro de oportunidade que o país necessita aproveitar —não lamentar. Índia, Coreia do Sul e China investiram na formação de profissionais, grande parte em nível médio, para assumir postos neste novo estágio do desenvolvimento tecnológico.

Devemos seguir o exemplo desses países. Formar jovens para essas novas e antigas profissões. Mas devemos fazer com olhos na realidade brasileira, e não simplesmente importando modelos de outras nações. Nesse sentido, o ensino deve vir necessariamente atrelado ao trabalho, o que é perfeitamente viável e em harmonia com a condição de adolescente ou jovem adulto.

A solução está num plano de ação do governo com a classe dos empresários e a sociedade civil, trabalhando com espírito cívico na criação da "Grande Revolução da Educação".

TENDÊNCIAS / DEBATES
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