Aceleradas ou inauguradas pela pandemia, estão em curso profundas transformações na economia e na geopolítica mundiais. Se ainda é cedo para distinguir todas as suas ramificações, uma delas já é nítida —uma nova etapa na competição entre as duas grandes potências mundiais, EUA e China.
No caso dos Estados Unidos, o enorme avanço obtido na vacinação e a luz no final do túnel da pandemia abrem espaço para um período de crescimento e inovação.
Com o novo estímulo fiscal de US$ 1,9 trilhão, o maior da história, acredita-se que o PIB americano possa crescer pelo menos 6% em 2021, a maior taxa em décadas, e viabilizar o retorno ao pleno emprego já no ano que vem.
O experimento conta com o apoio do Federal Reserve, que deve manter os juros muito baixos ao menos até quando a inflação ameaçar superar 2% ao ano.
Além da cifra agigantada, a significância do programa decorre do que sinaliza do ponto de vista ideológico —haverá tentativa séria de combater a desigualdade. Tendo assistido suas consequências políticas, como a presidência de Donald Trump, a democracia americana tem nova chance de renovação se criar mais oportunidades.
Outra parte do programa de Joe Biden é ampliar investimentos em tecnologias sustentáveis e infraestrutura, além de garantir a liderança em áreas cruciais para a próxima etapa de desenvolvimento, como inteligência artificial, computação quântica e biotecnologia.
Biden promete ainda trabalhar com aliados para reforçar aos olhos do mundo o apelo da democracia ocidental, de modo a conter a expansão da influência chinesa.
A China, por seu turno, não dorme. O governo acaba de divulgar seu 14º plano quinquenal, que prevê recursos direcionados para inovação, domínio das mesmas tecnologias essenciais para o futuro, reforço de industrias de ponta e redução de emissões de carbono.
Permanece o foco na infraestrutura, área de projeção de influência por meio de investimentos em países em desenvolvimento. E haverá esforço para a internacionalização da moeda chinesa.
De ambos os lados, há preocupação crescente com a segurança das cadeias de fornecimento. Controles de exportação de tecnologias sensíveis e que possam ter uso militar e garantia de suprimento doméstico, entre outros, manterão a competição acirrada.
Nos desafios comuns, como a mudança climática, espera-se cooperação, mas a rivalidade geopolítica deverá mobilizar mais dos recursos das duas grandes potências.
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