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O que a Folha pensa

O quarto ministro

Se Bolsonaro não mudar conduta, de pouco servirá a nova substituição na Saúde

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O novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga - Reprodução

Ainda no posto de ministro da Saúde, Eduardo Pazuello confirmou nesta segunda (15) que Jair Bolsonaro buscava um substituto para ocupar a pasta. À noite do mesmo dia, anunciou-se o nome de Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

O general, de início interino, acabou por ficar no cargo por mais tempo do que seria recomendável, dada a dificuldade de encontrar quem coubesse no figurino inglório desenhado pelo presidente.

Volta agora um profissional da área à pasta que deveria ser a mais importante no país assolado pela Covid-19. Não se trata, infelizmente, de garantia de uma nova e menos desastrosa gestão.

Bolsonaro entabula um quarto ministro na Saúde porque precisa do proverbial bode expiatório para justificar a guinada inverossímil em curso no tocante às vacinas que o presidente sempre negligenciou, quando não sabotou.

O submisso general será assim sacrificado no altar da inconsequência impune a que se habituou o ocupante do Planalto.

O presidente pressionado pelo centrão reage diante do detectado recuo de popularidade decorrente da escalada nas mortes, do colapso hospitalar nacionalizado e do lento avanço na vacinação.

Tem em vista empossar alguém com qualificação técnica, como os dois ministros médicos que defenestrou por não se curvarem a suas ideias fixas, erradas e cruéis.

Mais que sintoma da patologia dissociativa imperante no Planalto a respeito da pandemia, Bolsonaro encarna a própria causa etiológica do mal ali instalado.

Quer um médico que defenda o inexistente tratamento precoce, faça pouco caso de medidas eficazes de prevenção (máscaras e distanciamento social), releve o negacionismo antivacina anterior e priorize a economia antes da saúde pública —como se uma coisa não estivesse hoje ligada à outra.

Carece, ainda, de um auxiliar palatável à patrulha de milicianos digitais que o presidente açula sem pestanejar. Alguém que se disponha a abrir mão da paz de espírito ao vê-la ameaçada de violência, como já ocorreu com a cardiologista Ludhmila Hajjar apenas por ser cogitada para o cargo e prescrever a inadiável correção de conduta.

Queiroga conta tempo considerável de ligação com o presidente, tendo colaborado com sua equipe de transição. Na melhor hipótese, poderá aproveitar as relações e a oportunidade para viabilizar uma administração da pandemia mais racional e menos conflituosa.

Sem que Bolsonaro mude para além das aparências fugazes, entretanto, qualquer ministro estará fadado a escolher entre a pusilanimidade de Pazuello e o caminho de volta para casa.

editoriais@grupofolha.com.br

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