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Juliana Lopes

Mães são ainda mais resilientes

Somos frequentemente subestimadas quanto à capacidade de aprendizado e evolução

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Juliana Lopes

Especialista em gestão de negócios com foco em competências comportamentais, é líder de growth manager da RoutEasy, startup que atua no planejamento, controle operacional e gerencial de rotas complexas de entregas

Numa manhã de domingo, em um momento raro para muitas mulheres, meu marido me diz: “Olhe tudo o que você conquistou, parabéns!”. Não entendi na hora, mas ele completou: “Quantas mulheres conseguiram conquistar um espaço como você?”. Percebi que, enquanto eu estava sentada em minha cadeira de praia, lendo notícias e observando meus filhos brincarem, ele recolhia as roupas do varal.

É algo bem diferente do que vivi na infância, quando meu avô acompanhava o jornal diariamente e minha avó fazia as tarefas domésticas. Alguns podem achar que ela não se interessava por outros afazeres; entretanto, lia as notícias todos os dias e realizava outras atividades depois de limpar a casa e servir o jantar a todos. Ela pode sim ter se anulado por muitos anos, mas uma coisa me ensinou: ser independente.

Desde o marco da luta das mulheres e mães no espaço de trabalho, em 1968 —palco de mudanças na posição social e valores culturais—, lutamos por mais espaço. Maria Eduarda Kertész, da Johnson & Johnson, Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, e Michelle Obama são apenas alguns exemplos de "histórias bem-sucedidas de mães", mas, felizmente, hoje eu também faço parte dessa lista.

Sempre estive ativa no mercado. Atualmente sou mãe de três, recebi promoção de cargo enquanto grávida e hoje sou líder de "growth" em uma empresa de tecnologia e inovação, setor que até pouco tempo era majoritariamente masculino. Tenho autonomia para realizar projetos e o apoio dos meus líderes, que também acreditam que as empresas ocupam um espaço na responsabilidade de gerar um impacto positivo e justo para todos.

Batalhei pelo meu lugar. É uma transição difícil, porque a herança cultural ainda pesa sobre nós. Segundo o IBGE, cerca de 26 % das mulheres ainda não têm condições de trabalhar em tempo integral devido à responsabilidade com filhos e afazeres domésticos. Somos frequentemente subestimadas quanto à nossa capacidade de aprendizado e evolução.

No trabalho, enfrentamos uma série de olhares e obstáculos. Em casa, passamos pelas dificuldades "jogadas" pelos próprios familiares. Como mães, desenvolvemos ainda mais a nossa resiliência, por nos moldarmos às necessidades e a cada sonho de sermos felizes em espaços profissionais, educacionais, sociais ou na família.

Mas tudo isso vale a pena. Vale quando vejo o espaço que tenho no trabalho, o reconhecimento do meu marido e das pessoas de que gosto. Quando vejo meu filho escolhendo nos jogos de videogame personagens femininas ou quando minha filha, de oito anos, já fala sobre conquistar o mundo.

Sei que a equidade de direitos ainda precisa percorrer um longo caminho no mundo. Mas, afinal, quem foi que disse que ser ou não mãe é um grau comparativo de habilidade dentro de uma organização?

Desejo, então, que a minha história chegue até vocês, mães, como um símbolo de independência. Que você pare de se anular e busque exemplos. Basta olhar para seu lado, para a história e até dentro da sua própria família, como fiz quando olhei para minha avó. Estamos lotados de boas histórias reais, mais do que se pensa ou do que é divulgado. E, mesmo com tudo isso, se ainda alguém te dizer o contrário, não ligue, pois nós merecemos o mundo!

TENDÊNCIAS / DEBATES
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