Um projeto de reforma tributária acendeu a chama da revolta popular na Colômbia. Imensos protestos tomam as principais cidades, gerando quebra-quebra e uma repressão violenta das forças de segurança, na mais grave crise social e política enfrentada pelo presidente Iván Duque desde que assumiu o poder, em 2018.
Até o momento, ao menos 24 pessoas já morreram nos atos, mais de 800 ficaram feridas e 89 estão desaparecidas, segundo a Defensoria Pública. O saldo brutal gerou reações das Nações Unidas, da União Europeia, dos EUA e de ONGs de direitos humanos, que denunciam o uso desproporcional da força por polícia e Exército.
A ferocidade da resposta alimentou a indignação. Embora o governo tenha cedido à pressão e retirado o projeto, as multidões nas ruas só fizeram crescer, incorporando novas pautas às manifestações.
Na capital, Bogotá, um grupo tentou invadir o Congresso na quarta-feira (5), mas foi rechaçado; estradas têm sido bloqueadas em todo o país, e sindicatos seguem convocando uma greve geral.
Quarta maior economia do continente, a Colômbia foi atingida em cheio pela crise provocada pela pandemia. O Produto Interno Bruto encolheu 6,8%, no pior desempenho em meio século. O desemprego saltou para 16,8% em março, e milhões caíram na pobreza.
Para fazer frente ao aumento do gasto público ocasionado pela calamidade sanitária, Duque propôs o remédio amargo da elevação de tributos. Seu projeto tinha como pontos centrais a ampliação da base de contribuintes do imposto de renda e o aumento das taxas sobre bens e serviços, atingindo sobretudo a classe média.
Mesmo em tempos normais, uma reforma dessa magnitude já enfrentaria obstáculos consideráveis. O governo, contudo, dificilmente poderia ter escolhido momento mais inapropriado para apresentá-la.
O país, que com 75 mil mortos pela Covid-19 amarga a quarta pior proporção da América Latina (atrás de Brasil, Peru e México), vive um pico de novos casos e um recorde de óbitos. O sistema hospitalar nas maiores cidades está perto do limite, enquanto a vacinação segue estagnada.
Após desistir do projeto original, Duque prometeu propor outro, excluindo as medidas mais controversas. Antes de salvar sua reforma, porém, o presidente precisará pacificar as ruas e dar alguma resposta às insatisfações populares.
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