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Economia menor

Guedes se desgasta não por corte na pasta, mas por falta de endosso do Planalto

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O ministro da Economia, Paulo Guedes - Adriano Machado - 19.ag.20/Reuters

Houve muito empenho, no início do governo, em apresentar Paulo Guedes, da Economia, como um superministro. Jair Bolsonaro já declarava na campanha que todas as questões da área deveriam ser tratadas com seu “posto Ipiranga”; a nova pasta uniu estruturas e funções antes distribuídas entre ao menos quatro ministérios.

Essa imagem de poder já havia se desfeito bem antes da decisão recém-anunciada de reduzir o feudo de Guedes na Esplanada, com a recriação do Ministério do Trabalho e da Previdência —a ser entregue à ala política da administração.

Bolsonaro mantém o casamento de conveniência com a agenda liberal de seu ministro, o que provê alguma racionalidade ao governo. Entretanto as possibilidades de avanço da pauta econômica passam por estreitamento contínuo.

Em parte, devido aos tropeços de Guedes, um neófito no setor público às voltas com o gigantismo da burocracia e as armadilhas da negociação parlamentar, além de useiro em declarações infelizes e apegado a projetos inglórios como a ressurreição da CPMF.

Sua dificuldade em tirar ideias e promessas do papel ganhou nova gravidade na pandemia, com a demora na renovação do auxílio emergencial. Mais recentemente, a parcela de responsabilidade de sua pasta no atraso da vacinação entrou na mira da CPI da Covid.

É Bolsonaro, no entanto, quem impõe as maiores derrotas ao ministro —em nome de sua vocação corporativista e, sobretudo, na busca pela reeleição que vai consumindo todas as energias do governo.

Insatisfeito com o encarecimento dos combustíveis, o presidente pôs um general no comando da Petrobras; para não desagradar os servidores, freou a reforma administrativa; por apoio congressual, afrouxou os controles do Orçamento; nesta semana, criticou publicamente a mudança do Imposto de Renda proposta pelo ministério.

Pode-se argumentar que concessões políticas são inevitáveis na condução de qualquer programa reformista —e que no período houve conquistas como o redesenho da Previdência, a autonomia formal do Banco Central e o novo marco legal do saneamento.

Tudo considerado, porém, ainda resta evidente a perda de credibilidade da política econômica, por falta de respaldo do Palácio do Planalto. É o endosso do presidente que faz um superministro, não uma coleção de repartições públicas sob sua jurisdição.

editoriais@grupofolha.com.br

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