O caos que precede o golpe

Além de caro e demorado, acoplar impressoras a urnas eletrônicas seria expô-las a erros e violações

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Carol Pires

Jornalista e roteirista, é mestre em estudos latino-americanos pela Universidade Columbia (EUA)

Em 1993, Jair Bolsonaro levantou a hipótese de fraude no voto impresso. “Não querem informatizar as apurações pelo TRE [Tribunal Regional Eleitoral]. Sabe o que vai acontecer? Os militares terão 30 mil votos e só serão computados 3.000”, disse o então deputado, em registro do Jornal do Brasil. Desde então, o Brasil realizou 13 eleições usando urnas eletrônicas sem uma fraude sequer comprovada.

Já em 2018, Bolsonaro disse que não aceitaria o resultado da eleição se não fosse o vencedor. Repete o mesmo sobre 2022. Na última quinta-feira desafiou: “Se [as urnas] são [confiáveis], dá um tapa na minha cara”. Segundo Bolsonaro, sua única intenção é sanar a desconfiança no sistema eleitoral —desconfiança que ele próprio plantou.

Bolsonaro muda de ideia sem pudor porque seu único compromisso é com a violência. Suas teorias conspiratórias servem para manter a militância em alerta. Por isso, seu novo problema era a solução de outrora.

Infelizmente, mesmo sem provas ou nexo, essa desinformação ecoa na sociedade e corrói a confiança na democracia. Em 2018, 30% dos policiais declararam a um levantamento do Instituto Ideia confiar muito no sistema eleitoral. Em 2021, apenas 15% responderam o mesmo.

E a estratégia nem sequer é original. Em 2016, Donald Trump também atacou o sistema eleitoral norte-americano. Naquele ano, 84% dos eleitores republicanos disseram acreditar em “número significativo” de fraudes naquela eleição.

No Brasil, Aécio Neves abriu essa porta em 2014 ao pedir auditoria da eleição em que não recebeu votos suficientes para vencer Dilma Rousseff. Hoje, em vez de fazer mea culpa, o ex-príncipe tucano apoia o delírio bolsonarista.

Além de caro e demorado, acoplar impressoras a urnas eletrônicas seria expô-las a erros e violações. Nosso sistema eleitoral já é confiável e auditável. Bolsonaro semeia essa dúvida para colher o caos e justificar o golpe.

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