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Aula de desigualdade

Ensino presencial precisa diminuir o fosso entre escolas públicas e privadas

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Estudantes no primeiro dia de aula presencial em escola da rede estadual de São Paulo - Rubens Cavallari/Folhapress

O tardio retorno às aulas nas escolas do estado de São Paulo merece todo apoio. Já era tempo de pôr ponto final no abandono a que o alunado esteve relegado durante a pandemia, como se a educação figurasse entre as últimas prioridades do governo e da sociedade.

O Brasil todo entregou-se a tal descaso. Com raras exceções, redes municipais e estaduais de ensino interromperam aulas em classe por um ano ou mais, pondo o país entre os que mais demoraram a retomá-las —a comprovar que aqui pouco se valoriza o principal instrumento para reduzir uma escandalosa desigualdade.

O recurso lenitivo a aulas remotas atendeu só aos poucos estudantes de escolas públicas com acesso a conexões informáticas de qualidade. Mesmo para essa elite do ensino oficial, horas de estudo e assiduidade caíram vertiginosamente.

O Estado falhou de modo flagrante no dever de prover educação, mesmo tomando em conta as dificuldades criadas pela Covid-19. A promessa de dotar todos os alunos de meios digitais para atividades ainda não passa de miragem.

O resultado se conhece bem: crianças e jovens não só não progrediram tanto quanto deveriam como a suspensão das aulas presenciais implicou uma regressão no aprendizado. Em algumas escolas e séries, calcula-se que até 11 anos sejam necessários para recuperar habilidades e conteúdo não assimilados.

Suscita espanto que profissionais de educação tenham resistido por tanto tempo a retomar o trabalho em classe. Fizeram bem em batalhar por condições de segurança sanitária, mas não resta dúvida de que dedicaram mais empenho aos próprios interesses do que aos direitos de seus pupilos.

Qualquer pessoa pode intuir, como aliás indicam pesquisas, que os mais prejudicados em formação e qualificação são os alunos mais pobres. O atraso pesará por muito tempo, diminuindo-lhes as já exíguas vias de mobilidade social —e o desvão de oportunidades aumenta até no retorno à escola.

Em São Paulo, estabelecimentos privados de ensino se preparam para receber a totalidade dos estudantes nas classes. Em contrapartida, escolas da rede estadual devem adotar um esquema de rodízio, mantendo ainda 50% dos jovens em ensino remoto.

Espaço e equipamentos de alguns colégios públicos podem não ser ideais para receber todos os alunos em classe. Isso, no entanto, é algo a ser resolvido caso a caso, não adiando aulas indefinidamente.

Basta: chegou a hora de voltar a perseguir o equilíbrio entre demandas da corporação e a obrigação de combater a desigualdade socioeconômica devolvendo aulas de verdade, interação social e merendas a quem delas mais precisa.

editoriais@grupofolha.com.br

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