Países ricos, sentados em estoques de centenas de milhões de doses de vacinas contra a Covid-19, fizeram ouvidos moucos à assertiva da Organização Mundial da Saúde sobre o fracasso moral da distribuição de imunizantes pelo mundo.
Nações como EUA, Israel, Uruguai, Hungria e Alemanha decidiram usar as vacinas de que dispõem para imunizar crianças e adolescentes ou para aplicar uma dose de reforço em quem já tem o esquema vacinal completo —enquanto expressiva parcela dos adultos do mundo ainda não está imunizada.
Existem, claro, argumentos em favor dessas escolhas. Os mais jovens, ao frequentar a escola e outros ambientes, contribuem para a disseminação do coronavírus; aqueles com comorbidades, ademais, podem desenvolver casos mais graves de Covid-19.
Entretanto, como se sabe, a vacinação é ato coletivo —e, em se tratando de pandemia, global. Não se elimina a doença apenas aumentando a proteção individual; é necessário que a cobertura alcance um percentual da população suficiente para que o patógeno enfrente dificuldade para infectar novas vítimas e vá se tornando raro.
Espalhando-se rapidamente pelo planeta, o Sars-CoV-2 demonstrou que não respeita fronteiras. Dispondo de condições para proliferar em parte dos países, continuará a se desdobrar em novas variantes, como as cepas já batizadas de alfa a delta —e outras que podem vir a escapar aos imunizantes.
Países ricos doaram até agora pouco mais de 100 milhões de doses ao consórcio Covax Facility, que pretende tornar mais equânime a distribuição no mundo, e prometem que o número ultrapassará 600 milhões até o final de 2022.
Outras transferências foram feitas diretamente a nações pobres, mas as cifras permanecem demasiado distantes das 11 bilhões de doses que a OMS estima serem necessárias para imunizar 70% da população mundial —e proteger, de fato, ricos e pobres da Covid-19.
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