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Plano do MEC para criação de universidades em redutos de aliados do governo é um disparate

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Homem branco calvo, com cabelos grisalhos curtos nas laterais, óculos e bigode. Vestido de terno escuro e gravata, gesticulando com a mão esquerda. Ao fundo, uma mulher com máscara preta e uma bandeira.
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, durante entrevista coletiva em Brasília. - Pedro Ladeira/Folhapress

O Ministério da Educação parecia já ter vivido o pior com as gestões excêntricas de Ricardo Vélez Rodríguez e Abraham Weintraub, primeiros ocupantes da pasta sob Jair Bolsonaro. Aí veio Milton Ribeiro, que cumulou o desvario ideológico com um disparate administrativo, a serviço da argentária base parlamentar do presidente.

Na semana passada, em audiência na Câmara dos Deputados, Ribeiro apresentou projeto para criar cinco universidades e seis institutos federais. Pode parecer pouco, diante de 18 universidades e 173 campi inaugurados por governos petistas de 2003 a 2014. Na realidade, trata-se de exorbitância sem paralelo.

As instituições criadas por Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff permitiram aumentar de 500 mil para 932 mil o número de estudantes matriculados em universidades federais entre 2002 e 2014. As 11 unidades pretendidas por Ribeiro, em contraste, não acrescentam nenhuma vaga ao sistema.

Na realidade, não se trata de universidades e institutos novos, mas de desmembramento de instituições que já existem. Não haverá ingresso de estudantes, mas sim 2.912 cargos para preencher, a um custo anual que pode ficar entre R$ 147 milhões, segundo o MEC, e R$ 500 milhões, nas contas do Ministério da Economia.

Pistas sobre as razões verdadeiras do plano tresloucado surgem quando se consideram os locais contemplados. Despontam estados como o Piauí, base eleitoral do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), e Goiás, que não constava do projeto original e acabou incluído para afagar o deputado Vitor Hugo (PSL).

Maringá (PR), a cidade da qual já foi prefeito o líder do centrão e do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP), nem mesmo dispõe de campus para ser desmembrado. O município ganharia, entretanto, um instituto federal. Decerto não faltarão interessados em auferir rendimentos com a oferta de terrenos para o estabelecimento.

​Não há previsão de recursos para executar tal plano na proposta de Orçamento para 2022. Ainda no malfadado 2021, faltam R$ 124 milhões para a Capes honrar o pagamento de bolsas de formação de professores já concedidas. Cerca de 60 mil beneficiários arriscam ficar a ver navios.

Este é o governo que palavreia sobre contenção de gastos de pessoal com a mesma desfaçatez com que Bolsonaro propaga mentiras sobre as vacinas que oferecem proteção contra a Covid-19.

Este é o governo que mantém à frente da pasta da Educação Milton Ribeiro, agachado diante dos próceres do centrão: sem vagas para estudantes e professores, mas com dinheiro para comprar a omissão do Congresso diante das atrocidades bolsonaristas.

editoriais@grupolha.com.br

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