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A era de Xi

Líder chinês se consolida na ditadura; perenidade depende de arranjo com os EUA

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Imagem de Xi Jinping, dirigente chinês, exibida no Museu do Partido Comunista, em Pequim - Carlos Garcia Rawlins/Reuters

Na semana que passou, Xi Jinping consolidou sua passagem para os livros de história como um dos mais poderosos chineses da era moderna. Mais precisamente, até aqui, um dos três, com Mao Tsé-tung e Deng Xiaoping nas outras vagas.

Líder da ditadura de Pequim desde 2012, Xi elaborou uma resolução do Comitê Central do Partido Comunista Chinês na qual a agremiação cerra fileiras em torno de si.

Parece banal, mas apenas Mao (1893-1976) e Deng (1904-97) patrocinaram textos desta ordem, respectivamente em 1945 e 1981.

Se a versão de Mao o entronizava como líder inconteste, e a de Deng organizou a mudança econômica que levou a China ao posto de segunda potência mundial, a de Xi é toda sobre consolidação de poder.

Críticas ao passado, como as feitas por Deng aos excessos da sanha assassina do maoísmo, são trocadas por uma ideia de dinastia espiritual entre os três líderes, rumo a um certo "rejuvenescimento nacional" do gigante asiático.

Faz sentido, dado que a história da China por séculos foi de submissão. Quando Xi eliminou a concorrência e assegurou que em 2022 poderá rasgar o limite de dois mandatos estabelecido por Deng, ele se tornou timoneiro do processo.

A linha geral já havia sido dada em junho, no centenário do PC chinês. Apenas o socialismo salva, desde que conforme as orientações da leitura de líder sobre as suas "características chinesas", como Deng resumia seu híbrido de anulação de liberdades e terra de oportunidades capitalistas.

Foi um processo simbiótico auxiliado pelos EUA desde os anos 1970, uma obra do criticado Richard Nixon. O reconhecimento mútuo e a integração econômica com o Ocidente fizeram da China uma superpotência, ironia considerável para uma retórica quase xenofóbica de soberania nacional.

É, evidentemente, uma via de duas mãos. Por isso a extrema animosidade entre os países, a dita Guerra Fria 2.0, chega a um ponto de inflexão nesta segunda (15), quando Xi e o presidente americano Joe Biden farão reunião virtual.

O chinês, encorpado como um mandarim, encara o pressionado Biden. Mas a musculatura do primeiro escamoteia o fato de que, para fazer valer seu poder vitalício, ele terá de encontrar uma acomodação com os Estados Unidos.

A alternativa seria a guerra, talvez em torno de Taiwan, e isso ninguém quer —muito menos Xi, que está em posição militar inferior.

editoriais@grupofolha.com.br

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