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Carvão e dinheiro

Apesar de avanços, cúpula do clima em Glasgow arrisca tropeçar nas finanças

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Ativistas com máscaras de líderes mundiais, acorrentados e apresentados como criminosos climáticos, desfilam durante protesto contra a crise climática, em Glasgow, na Escócia, em que acontece a COP26; estavam representados o ex-presidente dos EUA Donald Trump, o presidente chinês, Xi Jinping, Bolsonaro, o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, o líder russo, Vladimir Putin, o magnata da mídia Rupert Murdoch, e o premiê indiano, Narendra Modi.
Protesto em Glasgow, na Escócia, durante a COP26 - Ana Estela de Sousa Pinto/Folhapress

Seria precipitado dizer que a cúpula do clima em Glasgow teve coisas boas e novas na primeira semana, mas que as coisas boas não são novas e as coisas novas não são boas. Há notícias animadoras, como a interrupção de investimentos em carvão, ainda que nada garanta desfecho satisfatório até o fim da COP26, na sexta-feira (12).

A Declaração de Transição do Carvão Global para Energia Limpa tem uma única página e fixa o compromisso de interromper licenças para novos projetos de energia com esse combustível fóssil e o financiamento de usinas em outros países. Assinam pesos pesados como EUA, Alemanha e Reino Unido.

Ficam de fora China (50% do consumo) e Índia (10%). A potência chinesa já havia prometido descontinuar o apoio a termelétricas no exterior, mas seguirá aumentando o consumo até 2030, prazo-limite para o mundo cortar em 50% a emissão de CO2 e ter chance de limitar o aquecimento global a 1,5ºC.

Outra boa nova veio com o Compromisso Global sobre Metano, gás do efeito estufa dezenas de vezes mais potente que o CO2. Um grupo de 96 países, entre eles o Brasil, prometeu reduzir em 30% as emissões em nove anos.

A delegação brasileira também concordou com a Declaração de Florestas, ao lado de 123 nações. Outra página genérica, para facilitar "produção e consumo de commodities sustentáveis (...) que não conduzam ao desmatamento e à degradação da terra" —ironia para um país onde desmatamento e emissões estão em alta.

Houve movimento ainda no setor financeiro, este sim capaz de tirar da inércia a questão do clima. Aí surgiram novidades, como a coalizão de instituições financeiras que administram US$ 130 trilhões e se comprometem a custear a transição energética. Mas esta pode custar até US$ 3 trilhões ao ano, por três décadas.

Os países ricos não cumpriram nem a promessa feita em 2009 de carrear R$ 100 bilhões anuais para projetos sustentáveis nas nações em desenvolvimento. Estas falam agora em obter US$ 1,3 trilhão ao ano de financiamento.

China e Índia estão à frente da demanda ambiciosa, as mesmas que, na condição de primeira e terceira maiores emissoras de carbono, não abrem mão do carvão. Novo impasse se desenha.

editoriais@grupofolha.com.br

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