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O que a Folha pensa inflação

O recado dos juros

BC evidencia relação entre a ofensiva contra o teto de gastos e a alta da Selic

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Sede do Banco Central, em Brasília - Marcello Casal Jr,/Agência Brasil

Como esperado, a proposta temerária apresentada pelo governo Jair Bolsonaro para desrespeitar os limites de gastos federais com objetivos eleitorais já cobra um custo alto. A decisão do Banco Central de acelerar a alta dos juros é consequência direta da irresponsabilidade do Executivo.

Na justificativa da decisão de elevar a taxa Selic em 1,5 ponto percentual, para 7,75% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) aponta diretamente para o descontrole das contas públicas como fator que eleva os riscos inflacionários, que já se mostram graves.

O BC ainda não tomou como consumada a mudança na trajetória fiscal, que ainda depende da votação definitiva da proposta de emenda constitucional que adia o pagamento de precatórios e altera os parâmetros do teto de despesas.

Se aprovada pelo Congresso, a peça sinalizará dispêndios maiores não apenas para 2022, mas estruturalmente, com impacto altista nos juros de longo prazo.

Mesmo que a autoridade monetária ainda relute na conclusão, cautela acertada a esta altura, a percepção de piora na trajetória da dívida pública já foi inserida nos preços dos ativos brasileiros. As taxas no mercado dispararam para mais de 12%, a Bolsa despencou e o dólar se valorizou.

Os resultados da insegurança são aperto nas condições financeiras —o ambiente geral que define as condições para captação de recursos por parte de famílias e empresas— e maiores riscos recessivos para o ano que vem.

Mesmo antes da barafunda em que se transformou a discussão do Orçamento, o controle da inflação já se mostrava um desafio e tanto. A desvalorização do real num contexto de elevadas altas das matérias-primas cotadas em dólar deve resultar em alta do IPCA próxima a 10% neste ano, muito acima da meta oficial de 3,5%.

As pressões sobre alimentos, energia, combustíveis e preços industriais sujeitos a repasses do câmbio foram, até aqui, as principais responsáveis pelo aumento do custo de vida. Como costuma ocorrer no Brasil, porém, começa a se desenhar uma generalização que pode incluir itens mais recorrentes, como serviços.

Por isso, as expectativas para o IPCA superam as metas também para 2022 e 2023, o que demanda resposta dura do BC.

Se a inflação é problema no mundo todo neste ano de retomada e choques nas cadeias produtivas, no Brasil ela se mostra problema agravado pela incúria de Bolsonaro.

Ainda há tempo para estancar a marcha insensata capaz de levar a uma nova recessão —que seria trágica, sobretudo, para a população pobre em nome da qual se promove a irresponsabilidade fiscal.

editoriais@grupofolha.com.br

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