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Alcântara (MA) é quilombola

É necessário seguir vigilante. Mas não sem registrar cada vitória

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Bianca Santana

Jornalista, cientista social e pesquisadora, é autora de ‘Quando Me Descobri Negra’ e colunista da revista Gama

A batalha para proteger 792 famílias quilombolas em Alcântara, no Maranhão, protagonizada há mais de 40 anos pelos próprios quilombolas, informa como o movimento negro tem barrado desmandos, mesmo neste governo.

Em março de 2019, Bolsonaro e Trump assinaram o acordo para ampliar o Centro de Lançamento de Alcântara: os EUA finalmente poderiam lançar satélites e foguetes de uma das bases mais bem posicionadas do mundo, atropelando a soberania prevista em nossa Constituição. Em 2011, Wikileaks revelou um telegrama do Departamento de Estado americano à Embaixada da Ucrânia em Brasília que mencionava "uma antiga política de não 'encorajar' as tentativas do Brasil de desenvolver um foguete sozinho".

Moradores da agrovila do Cajueiro que foram transferidos em 1985 para a instalação da base da Aeronáutica no local. - Jorge Araújo - 13.fev.2002/Folhapress

A Câmara dos Deputados aprovou o acordo em regime de urgência, violando a Convenção 169 da OIT, que determina consulta prévia, livre e informada às comunidades tradicionais sobre medidas que afetem seus territórios e modos de vida. O Senado validou. Notas técnicas, reuniões, tiitaço não foram suficientes para sensibilizar parlamentares brasileiros.

Mas, se uma ideia equivocada de desenvolvimento extrapola fronteiras, a resistência a ela também é internacional. Além de denunciar as violações à ONU, o Movimento dos Atingidos pela Base Espacial de Alcântara enviou uma carta ao Congresso americano, subscrita por cerca de 50 entidades da sociedade civil, do sistema de Justiça e do movimento negro. Em apoio, a Coalizão Negra por Direitos foi a Washington sensibilizar parlamentares negros.

O senador Hank Johnson se posicionou no plenário, convocando mais congressistas contra retiradas forçadas e ataques racistas. Em outubro, a comissão do senado americano responsável pelo orçamento público determinou que não se destine recursos à remoção de comunidades quilombolas de Alcântara.

Como afirma o cientista político e quilombola Danilo Serejo, é necessário seguir vigilante. Mas não sem registrar cada vitória.

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