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PIB no retrovisor

Economia mostra dados positivos no fim de 2021, mas cenário não inspira otimismo

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Contêineres no Porto de Santos - Eduardo Anizelli/Folhapress

Dados preliminares sugerem que a economia teve leve crescimento no quarto trimestre e terminou 2021 com desempenho um pouco acima das expectativas —expansão de 4,5% segundo o índice de atividade econômica do Banco Central, plena recuperação após a queda de 4,1% observada em 2020.

Obstáculos se acumulam, contudo. A alta dos juros, a perda de renda por causa da inflação e do desemprego ainda elevado e as incertezas locais e globais têm levado a seguidos cortes nas projeções para este ano. Dificilmente o Produto Interno Bruto avançará mais do que 0,5%, é o que se calcula.

A conjuntura mais positiva nos meses recentes pode ser atribuída a fatores temporários. A alta de 1,4% dos serviços em dezembro mostra continuidade da tendência de normalização, com a redução dos impactos da pandemia.

O setor terminou 2021 com avanço de 10,9% em relação ao ano anterior —e em patamar 6,6% acima do pico anterior à pandemia, apurado em fevereiro de 2020.

Tal crescimento, porém, deixa para trás segmentos fortemente empregadores, como os serviços prestados às famílias, que dependem de maior contato com o público. Essa categoria permanece 11,2% abaixo do nível que antecedeu a crise e terá dificuldade adiante.

A escalada de preços de itens essenciais —como energia, alimentos e combustíveis— retira poder de compra da população, e o desemprego também reduz a capacidade de barganha dos assalariados. Nos segmentos formais, parcela maior dos dissídios não têm sido suficiente para repor a inflação.

A indústria também mostrou bom desempenho em dezembro, com expansão de 2,9%. Em 2021, a variação ficou em 3,9%, ainda insuficiente para retomar o nível pré-pandemia. A recomposição de estoques deprimidos explica o movimento, como se observa em outros países, mas a letargia deve continuar no médio prazo.

Nada se espera de melhora relevante, de fato. O aperto nos juros —a taxa Selic, de 2% em março do ano passado, deve subir para esperados 12,5%— tende a afetar severamente a atividade produtiva.

Já se observa redução na demanda por artigos sensíveis, e os bancos se preparam para aumento da inadimplência. O comprometimento da renda das famílias com dívidas chegou a 26,8% em setembro, maior patamar da série histórica.

Tais estatísticas, já funestas, tornam-se piores quando se considera que a economia brasileira ainda permanece 5,8% menor do que no início de 2014, pelo índice do BC.

A perda de ímpeto vem de longe —e resulta de fatores há muito conhecidos, grande parte deles ligada a distorções na estrutura tributária e na despesa do Estado.

editoriais@grupofolha.com.br

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