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O que a Folha pensa forças armadas

Primazia militar

Num contexto de penúria geral de investimentos, prioridade às Forças é distorção

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O primeiro Gripen feito pela Saab sueca para a Força Aérea Brasileira em voo no Rio - Divulgação/Saab

Entre 2008 e 2014, auge dos anos petistas, o governo federal destinava cerca de 5,6% de sua despesa a investimentos. No início do segundo mandato de Dilma Rousseff, os recursos para obras e equipamentos começaram a entrar em colapso.

A penúria exigiu a redução de gastos em geral —cortes que, como de costume, recaíram em especial sobre investimentos, que foram reduzidos a 3,3% do Orçamento, na média de 2015 a 2018, e, nos anos de Jair Bolsonaro, a 2,3%.

Nesse grupo de despesas, as destinadas à defesa nacional foram das mais preservadas, e não apenas no governo Jair Bolsonaro. Também deve ser assim neste ano, como noticiou esta Folha.

Seja qual for o motivo, a escolha de prioridades parece inequívoca e problemática. Ciência e tecnologia, por exemplo, está entre as áreas que sofrem os maiores arrochos.

No ano passado, o investimento de maior valor do Ministério da Infraestrutura foi a conservação de estradas no Pará, com cerca de R$ 390 milhões; em segundo lugar, a construção da Ferrovia de Integração Leste-Oeste, na Bahia, com R$ 337 milhões.

Já no caso da Defesa, empenhou-se R$ 1,45 bilhão para o programa de compra de caças da FAB e R$ 435 milhões para o cargueiro militar. Destinou-se mais de R$ 1 bilhão para os submarinos convencionais e nucleares. Entre outros gastos maiores estão carros de combate, helicópteros e navios.

A cúpula militar argumenta que não se pode permitir a obsolescência das Forças Armadas, com o que perderia sentido a ideia de mantê-las. Além do mais, aponta-se que tais programas resultam de contratos de longo prazo, não raro com fornecedores estrangeiros, que não podem ser interrompidos.

Quanto ao primeiro aspecto, notem-se a degradação acelerada da já precária infraestrutura de transporte e o desmonte do sistema de pesquisa científica e tecnológica. Não é difícil listar casos desesperadores de carências em setores essenciais, e a despesa militar não pode ter privilégio no julgamento adequado das prioridades.

Mais relevante é o fato de que o governo federal destinou apenas o equivalente a 0,4% do Produto Interno Bruto para investimentos em 2021, em um gasto não financeiro total de 18,6% do PIB.

Em casa onde faltam pão, ciência e educação e saúde, é mais complexo dizer quem tem mais a reclamar. Falta justificativa razoável, de todo modo, para a primazia militar.

editoriais@grupofolha.com.br

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