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O que a Folha pensa Rússia

Desafio americano

Guerra exige dos EUA mais diplomacia e novos meios de cooperação com aliados

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O presidente dos EUA, Joe Biden - Brendan Smialowski/AFP

O presidente dos Estados Unidos, Joseph Biden, fez o que pôde para transmitir determinação e autoconfiança ao tratar da guerra na Ucrânia em seu discurso anual no Congresso, na última terça (1º).

O líder americano disse que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, subestimou a capacidade do Ocidente de reagir à sua inaceitável agressão e por isso agora se encontra isolado diante da comunidade internacional.

Biden celebrou a frente única articulada com seus aliados na Europa para aplicar as duras sanções econômicas impostas à Rússia, que bloquearam o acesso do país ao sistema financeiro global e já lhe causam danos severos.

Por fim, sugeriu que o isolamento de Putin só tende a aumentar. "Na batalha entre a democracia e as autocracias, as democracias se levantaram e o mundo está claramente escolhendo o lado da paz e da segurança", discursou.

A realidade, no entanto, parece mais incômoda do que Biden sugere. A invasão da Ucrânia, um país independente governado por um presidente eleito democraticamente nas franjas da Europa, representa uma contestação veemente à influência que os EUA e seus aliados buscam exercer no mundo.

A capacidade do autocrata russo de resistir à avalanche de sanções ainda está sendo testada, mas não há como duvidar da determinação de quem não hesita diante das normas do direito internacional e autoriza os tanques a disparar até contra instalações nucleares.

A crise chegou à mesa de Biden num momento de fragilidade, em que ele parece pouco propenso a correr riscos. Sua agenda doméstica encontra oposição até em seu partido, sua popularidade está em queda, e a maioria que detém no Congresso estará em jogo nas eleições legislativas de novembro.

Biden prometeu defender os vizinhos da Rússia que são membros da União Europeia e ofereceu assistência militar e socorro financeiro aos ucranianos, que querem entrar no bloco, mas já deixou claro que não tem intenção de mandar soldados americanos ao combate.

Os fiascos no Iraque e no Afeganistão, onde os EUA não deixaram de exibir truculência, são uma lembrança recente. Os norte-americanos, corretamente, não se mostram dispostos a financiar outra aventura militar no exterior —ainda mais diante das enormes incertezas de um confronto com outra potência nuclear.

Um prolongamento do conflito trará novos desafios, da necessidade de acolhimento de centenas de milhares de refugiados à busca por maior integração dos países da região com a economia global.

Se Putin é um adversário a ser enfrentado como parte de uma disputa global entre democracias liberais e autocracias emergentes, como Biden sugere, os Estados Unidos terão de abandonar a onipotência de outros tempos e encontrar novos meios de cooperação com seus aliados para prevalecer.

editoriais@grupofolha.com.br

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