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O que a Folha pensa inflação

Real em alta

Queda do dólar favorece controle da inflação, mas não reflete boas políticas

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Moedas de R$ 1 - Rubens Cavallari/Folhapress

Poucas variáveis influenciam tanto a percepção geral a respeito da situação econômica quanto a cotação do dólar. Numa reversão do que se via desde o início da pandemia, a moeda americana vem se desvalorizando em relação ao real em velocidade surpreendente.

As oscilações da divisa —tida como porto seguro no mundo, a despeito das intempéries que trazem dúvidas crescentes sobre tal condição— importam. Quando o real perde valor, sobem os preços dos produtos importados e muitas vezes, como agora, a inflação.

Desde o início deste 2022, contudo, as condições globais têm se alterado em favor da moeda brasileira, que apresenta a maior valorização do mundo emergente. Aqui, a depreciação do dólar chega a 15% (de R$ 5,58 para R$ 4,75).

O elevado preço das matérias-primas exportadas, acentuado em decorrência da guerra na Ucrânia, está entre os principais motivos.

É provável que os saldos comerciais cresçam neste ano —o Banco Central, em seu relatório trimestral de inflação, estima um resultado positivo de US$ 83 bilhões, uma alta de US$ 47 bilhões ante o superávit do ano passado.

Outro impulso vem do diferencial de juros locais em relação ao restante do mundo. Como a inflação, hoje um problema global, aumentou antes no Brasil, o ciclo de alta na taxa básica também começou mais cedo.

Desde março do ano passado a Selic subiu de 2% para 11,75% ao ano, enquanto nos Estados Unidos o processo mal se iniciou.

A disparidade em favor de aplicações financeiras locais já chegou a níveis que tornam o país atrativo ao capital de curto prazo, além de reduzir o incentivo a remessas de recursos ao exterior por investidores instalados no Brasil.

Outras fontes de divisas surgem. Estima-se, por exemplo, que os exportadores brasileiros acumularam algumas dezenas de bilhões de dólares no exterior em 2020 e 2021. Nesse período, tais recursos em grande parte não foram internalizados, dadas as incertezas domésticas. O quadro agora mudou.

Por fim, o país vem sendo favorecido nos fluxos internacionais de recursos. Neste ano, até 21 de março, R$ 81 bilhões de investidores estrangeiros ingressaram na Bolsa.

Deve-se ter em mente, entretanto, que humores do mercado financeiro são voláteis. Assim como o encarecimento anterior do dólar pode ter sido exagerado, o efeito inverso agora não é testemunho da qualidade da política econômica.

Certamente há um efeito favorável no controle da inflação, mas permanecem as dúvidas sobre o compromisso com a solidez fiscal e a capacidade de restaurar dinamismo econômico e social, no governo atual e no próximo.

editoriais@grupofolha.com.br

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