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O que a Folha pensa dia do trabalho

Agenda rebaixada

A Bolsonaro convém campanha centrada em falsos problemas e bandeiras ideológicas

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Pronunciamento de Bolsonaro é transmitido na avenida Paulista, em São Paulo - Ronny Santos/Folhapress

Houve algum alívio com a atitude relativamente contida de Jair Bolsonaro (PL) em atos de modesta mobilização no Dia do Trabalho. Trata-se de reação, nos meios políticos e em setores da sociedade, que evidencia como o mandatário opera para rebaixar o debate nacional à sua pauta tacanha.

Evitou-se o pior porque Bolsonaro, embora tenha marcado presença em duas manifestações de índole antidemocrática contra o Supremo Tribunal Federal e a Justiça Eleitoral, não chegou a discursar contra as instituições ou a fazer incitações abertamente golpistas.

Em Brasília, limitou-se a cumprimentar um punhado de apoiadores que não chegava a cobrir toda a grama ressecada em frente ao Congresso Nacional. Para mais movimentado protesto da avenida Paulista, em São Paulo, mandou um vídeo de menos de dois minutos com bordões reacionários.

"Temos um governo que acredita em Deus, respeita os seus militares, defende a família e deve lealdade ao seu povo", disse na gravação —como se alguma força política hoje importunasse os laços familiares, as Forças Armadas ou as convicções religiosas.

Qualquer presidente, até um desprovido de ideias e argumentos, possui grande capacidade de ditar a agenda do país. Nos últimos dias, Bolsonaro conseguiu atrair as atenções para o embate com o Judiciário em torno de um deputado irrelevante —e ressuscitar a ofensiva contra as urnas eletrônicas sem um fiapo de base factual.

Além de abrir caminho para uma tão previsível quanto farsesca contestação a uma derrota eleitoral, convém ao presidente uma campanha centrada em problemas imaginários e bandeiras ideológicas.

Muito mais difícil, para um político que foge de entrevistas e debates, será apresentar caminhos para superar a dramática combinação de carestia, desemprego e desarranjo orçamentário vivida pelo país e agravada pela guerra na Ucrânia —ou prestar contas sobre a trágica gestão da pandemia.

Mesmo diante de sua base de apoio mais fiel, é prudente evitar maiores explicações sobre os nebulosos gastos do Ministério da Educação e da Codevasf, impulsionados pela intermediação de pastores ou por pressões do centrão.

A piorar o quadro, interessa também ao principal adversário na corrida ao Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), uma disputa mais plebiscitária do que programática, na qual desponte como única alternativa ao desgoverno e aos impulsos autoritários de Bolsonaro.

A apenas cinco meses da votação, muito pouco se sabe sobre os propósitos e compromissos de parte a parte. Quanto mais o pleito presidencial se resumir a um duelo de rejeições, mais perderá o eleitor.

editoriais@grupofolha.com.br

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