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Novo choque

Governos devem se preparar para impactos de longa duração da guerra na Ucrânia

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Preços de combustíveis em Frankfurt, na Alemanha - Armando Babani/Xinhua

Relatório do Banco Mundial, divulgado na semana passada, assume projeções sombrias para os impactos da guerra na Ucrânia. O conflito agrava os efeitos econômicos negativos provocados pela Covid, reforçando alterações nos padrões globais de comércio, produção e consumo de produtos básicos.

Os preços permanecerão em alta ao menos até o final de 2024, estima o documento, intitulado Projeções para o Mercado de Commodities.

No setor de energia, por exemplo, as matérias-primas tiveram nos últimos dois anos o maior aumento desde a crise do petróleo de 1973. A previsão é que subam mais de 50% neste ano, na média. Quanto aos grãos, o encarecimento é o maior desde 2008.

Para o Banco Mundial, a acomodação a partir de 2023 e 2024 será lenta, com os preços estacionando bem acima da média dos cinco anos mais recentes. Trata-se de um efeito colateral do maior uso de fontes fósseis, que promoveu choques em diferentes setores.

A guerra na Ucrânia também alterou a dinâmica e os custos do transporte de mercadorias pelo mundo, obrigando a adoção de novas rotas que levam a maior consumo de combustível. Ou seja, criou-se um ciclo que se autoalimenta.

Merecem atenção as recomendações do organismo, para o qual os governos devem agir contra a inflação e a falta de produtos para as famílias mais pobres.

Cumpre utilizar a política pública para ampliar redes de assistência, com transferências de dinheiro aos mais pobres, programas de alimentação escolar e frentes de trabalho —alternativas que podem assegurar uma renda mínima.

Foi o que se fez por aqui com a criação do Auxílio Brasil, embora as motivações e os procedimentos não tenham sido os mais virtuosos. Resta muito a fazer para aperfeiçoar o programa de transferência de renda e garantir seu financiamento nos limites orçamentários.

O Banco Mundial defende ainda cautela no uso de subsídios e controles de preços, especialmente em relação aos combustíveis e os alimentos, que podem gerar o efeito inverso ao desejado.

Em vez de segurar a inflação, tais artifícios tendem a distorcer a oferta dos produtos, ao mesmo tempo em que elevam déficits públicos —o que resulta em novas pressões sobre os preços.

Trata-se de cenário cuja duração é imprevisível, e a tarefa de minorar o sofrimento social demandará, além de compaixão, racionalidade.

editoriais@grupofolha.com.br

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