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Christopher Mendonça

Colômbia, um país em ebulição

Seja qual for o resultado eleitoral, vizinhos enfrentarão dias difíceis

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Christopher Mendonça

Professor de relações internacionais do Ibmec-BH

Uma das cinco maiores economias da América do Sul, a Colômbia que vai às urnas neste domingo (19) tem uma trajetória política marcada por conflitos, violência e corrupção.

Principalmente desde os anos 1980, quando os cartéis do narcotráfico ganharam notoriedade internacional pelo alto volume de entorpecentes comercializados a partir do território colombiano, as disputas entre grupos políticos têm sido extremamente acirradas.

Os candidato à Presidência da Colômbia que vão disputar o segundo turno: Gustavo Petro (à esq.) e Rodolfo Hernández - Reuters

Os partidos de direita estão a um longo período no comando do país, criando uma estrutura política de forte parceria com os Estados Unidos e com o empresariado. Em 2018, a vitória de Iván Duque se deu a partir de um discurso de medo de que a esquerda colombiana transformasse o país em uma "segunda Venezuela". O movimento antiesquerda levou Gustavo Petro à derrota por um quantitativo recorde, e seu adversário passou a despachar no tradicional Palácio de Nariño, em Bogotá.

Em seu governo, Duque foi amplamente criticado por suas condutas, entre as quais destacam-se as propostas de reformas, interpretadas como um grande peso às classes mais populares. Em 2019, foi alvo de uma série de protestos organizados por grupos populares insatisfeitos com a política nacional.

Duque perdeu a maioria legislativa e viu sua popularidade despencar. De acordo com o Instituto Gallup, em meio à pandemia o presidente colombiano alcançou níveis recordes de rejeição popular, chegando a quase 70% de desaprovação. Em 2021, novas manifestações de rua e escândalos envolvendo a equipe presidencial trouxeram de volta ao jogo político o nome de um adversário de outrora: Gustavo Petro.

Lançando-se como uma alternativa ao governo de turno, o esquerdista Petro liderou a maior parte das pesquisas para o pleito deste ano. Com um discurso mais moderado, chamou a atenção de grupos importantes e ganhou espaço entre os postulantes à Presidência: obteve 40,3% dos votos no primeiro turno.

Agora, no segundo turno, enfrenta um adversário inesperado. O populista Rodolfo Hernández ganhou fôlego na última semana antes da votação, deixou para trás o candidato governista, o direitista Federico "Fico" Gutiérrez (23,9%), e, com 28,1% dos votos, tirou os tradicionais grupos políticos da segunda fase do pleito.

Pesquisas recentemente divulgadas apresentam grande incerteza no páreo: os candidatos estão tecnicamente empatados, colocando esquerda e direita sob pressão. Áudios vazados da campanha de Petro induzem a opinião pública ao entendimento de que houve estratégias desleais para se alcançar votos. Hernández, por sua vez, declara-se ameaçado de violência, cancela a sua campanha pública e viaja para Miami.

A certeza que se tem é a de que nos próximos dias a temperatura na Colômbia irá aumentar e que a mobilização entre os grupos que disputam o poder poderá atingir níveis elevados de violência. Os destinos de um dos países mais importantes da América Latina serão decididos por um pleito eleitoral altamente polarizado e barulhento.

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