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Desafios à esquerda

Governos da América Latina não deverão contar com cenário benigno dos anos 2000

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Protesto contra o governo em Buenos Aires, no ano passado - Magali Cervantes - 16.set.21/AFP

Com a vitória de Gustavo Petro na eleição presidencial da Colômbia, cinco das seis maiores economias da América Latina —incluindo também México, Argentina, Chile e Peru— estarão sob governos considerados de esquerda. Líder nas pesquisas de intenção de voto aqui, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode adicionar o Brasil a essa lista.

O avanço da esquerda não parece significar uma reorientação ideológica consistente, porém. O movimento parece decorrer mais da rejeição às lideranças incumbentes, seja qual for sua filiação política, tendo em vista a letargia econômica e o agravamento de tensões sociais nos últimos anos.

Entre 2010 e 2020, a América Latina cresceu apenas 2,2% ao ano, abaixo da média mundial de 3,1%. Tal ritmo mal supera a expansão populacional, o que significa na prática um quadro de estagnação da renda e piora de indicadores sociais ao longo do período.

Desde a pandemia, a situação se agravou com a falta de acesso a saúde e educação de amplos estratos. Mais recentemente, a escalada da inflação, que se aproxima de 10% anuais em vários países da região, rondando os 60% na Argentina, amplia o descontentamento.

O fato é que o ambiente global não é favorável a um longo ciclo de abundância. À diferença do que se viu na década de 2000, outro momento em que a esquerda governava boa parte da região, não se espera um processo continuado de aumento de preços de matérias-primas, a base da exportação da maioria dos latino-americanos.

A guerra na Ucrânia elevou preços de metais, alimentos e energia, mas o ganho desta vez não conta com a demanda chinesa e pode ser revertido. O dano colateral, ademais, se mostra na forma de inflação que pune os mais pobres.

Ao menos, a esquerda que chega ao poder não é monolítica. Gabriel Boric, jovem presidente do Chile, apresenta uma plataforma modernizante e mostra repulsa às tendências autoritárias de esquerda que ainda grassam no continente. Já o velho populismo persiste em líderes como López Obrador, do México, e Pedro Castillo, do Peru.

Se o desejo geral é por mudanças, onde a esquerda governa há mais tempo, caso da Argentina, os ventos podem soprar para o outro lado na próxima eleição.

O grande desafio será não repetir erros do passado, como fiar-se apenas em gasto público na busca de crescimento econômico. Novas ideias, porém, continuam escassas.

editoriais@grupofolha.com.br

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