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Angela Kaxuyana e Maria Emília Coelho

Presidente da Funai precisa sair já

Marcelo Xavier da Silva trabalha ativamente contra os direitos dos povos indígenas

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Angela Kaxuyana

Coordenadora-executiva da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab)

Maria Emília Coelho

Assessora da Coiab e membro do OPI (Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato)

- Campanha "Isolados ou Dizimados" *

Quando o paradeiro do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips ainda era uma incógnita, o presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Marcelo Augusto Xavier da Silva, difamou os dois profissionais.

Em meio ao desespero das famílias e dos amigos, o mais alto representante do principal órgão indigenista do país escolheu criminalizar Bruno e Dom, em sintonia com o presidente Jair Bolsonaro (PL) que, dias antes, sugeriu que os dois haviam embarcado em uma "aventura".

A postura de Xavier não surpreende. Afinal, desde antes de sua chegada à presidência da Funai, em julho de 2019, o delegado da Polícia Federal agia contra os direitos dos povos indígenas. No cargo, passou a sabotar o trabalho dos servidores da instituição.

Protesto contra o presidente da Funai em 15 de junho, em Brasília - Ueslei Marcelino - 15.jun.2022/Reuters

Poucos meses depois, em outubro daquele ano, Bruno foi exonerado da Coordenação Geral da CGIIRC (Coordenação Geral de Índios Isolados e Recém-Contatados) após uma operação contra o garimpo ilegal na terra indígena Vale do Javari.

Licenciado sem remuneração, o indigenista passou a atuar como colaborador da Univaja (União das Organizações Indígenas do Vale do Javari) na defesa do território com a maior concentração de povos isolados no Brasil.

Conforme revelou dossiê do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) e da associação que representa servidores e indigenistas da Funai, a INA, são abundantes os retrocessos e ilegalidades no órgão sob a gestão de Xavier.

Segundo o levantamento, o presidente da Funai boicota a demarcação de territórios indígenas, persegue funcionários concursados e lideranças indígenas e aplica uma militarização sem precedentes. Atualmente, dos 39 coordenadores regionais do órgão, 22 são militares ou policiais —apenas dois são servidores de carreira.

Ainda de acordo com análise feita da agenda oficial de Xavier, ele realizou somente dois encontros com indígenas em 2022, dedicando a maior parte do seu tempo a reuniões com ruralistas, grupo que pressiona pela ocupação de terras indígenas no Brasil.

Em entrevista à Folha, publicada após sua morte, Bruno denunciou que Xavier trabalhava para ruralistas e impedia ativamente a demarcação de territórios. Segundo ele, o presidente da Funai exercia uma "administração do caos".

As invasões no Vale do Javari por criminosos são um retrato fiel da política anti-indígena do atual governo. A omissão do Estado, nesta e em outras terras indígenas de todo o país, tem impulsionado e empoderado invasores que, com a certeza da impunidade, se sentem livres para praticar seus crimes.

Com a confirmação da brutal execução de Bruno e Dom, a permanência de Xavier na presidência da Funai representa uma afronta aos servidores da Funai, aos indígenas, às famílias e à memória dos assassinados.

Unimo-nos ao chamado dos servidores e servidoras da Funai, que entram em greve nesta quinta-feira (23) pela saída de Xavier e pela devida investigação e responsabilização dos envolvidos no caso de Bruno e Dom.

Justiça por Bruno e Dom! Por uma Funai indigenista e para os povos indígenas!

* A campanha "Isolados ou Dizimados" é encabeçada pelas organizações Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) e OPI (Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato) e conta com o apoio do Instituto Socioambiental (ISA), da Survival International, da Opan (Operação Amazônia Nativa), da ONG Uma Gota no Oceano e da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)

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